Críticas


AMOR EM 5 TEMPOS, O

De: FRANÇOIS OZON
Com: VALERIA BRUNI TEDESCHI, STEPHANE FREISS, GERALDINE PAILHAS
14.07.2006
Por Marcelo Janot
DIDATISMO DE REVISTA FEMININA

O jovem diretor francês François Ozon foi buscar inspiração no Bergman de Cenas de um Casamento para realizar O Amor em 5 Tempos, mas a superficialidade do roteiro deixa seu filme bem aquém do realizado pelo mestre sueco. A semelhança mais forte fica por conta do reencontro sexual de um casal divorciado e pára por aí. A estrutura do filme, episódica e em flashback, faz lembrar também o polêmico Irreversível, de Gaspar Noé.



Mas Ozon não quer chocar. E pelo visto nem fazer o espectador pensar muito. É com um didatismo de revista feminina, dessas tipo Cláudia ou Nova, que O Amor em 5 Tempos passeia pelas etapas de uma relação, desde o início do namoro até o divórcio, só que na cronologia inversa. As canções românticas italianas, intencionalmente over, ajudam a conferir um tom caricatural a certas situações. Como se Ozon estivesse dizendo ao espectador que o filme é muito mais um exercício de estilo do que algo para ser levado a sério. O problema é que como exercício de estilo ele não é inovador o suficiente para sustentar o interesse.



Há um claro desequilíbrio no retrato dos personagens principais. Todas as atitudes que podem contribuir para o fracasso da relação partem de Gilles: no primeiro episódio, é ele quem quer fazer sexo à força; no segundo, manifesta tendências homossexuais ao se interessar pelo namorado do irmão; no terceiro, se recusa a acompanhar o nascimento do próprio filho; no quarto episódio, não comparece na noite de núpcias, deixando em Marion uma sensação de frustração que justifica o desvio de conduta dela; e no quinto, que mostra o momento em que os dois iniciam a relação, o desinteresse dele pela namorada de quatro anos já serve como indício de que este seria seu tempo-limite.



Ou seja, Marion não tem absolutamente culpa nenhuma na história. Embora Gilles não seja apresentado de forma vilanizada, talvez o romance dos dois tivesse outro fim se ele não cometesse tantos erros. Mas o personagem dele não tem profundidade suficiente para que possamos compreender seu comportamento. Em seu melhor filme, Sob A Areia (2000), Ozon mostrou que sabe contar a história de uma relação amorosa fracassada de forma inteligente e original. Ali, saía-se do cinema com a sensação de que ainda havia muito o que refletir sobre o filme. No caso de O Amor em 5 Tempos, parece que as respostas estão nas revistas velhas da sala de espera do consultório do dentista.



# O AMOR EM 5 TEMPOS (5 X 2)

França, 2004

Direção e Roteiro: FRANÇOIS OZON

Produção: OLIVIER DELBOSC, MARC MISSONNIER

Fotografia: YORICK LE SAUX

Edição: MONICA COLEMAN

Música: PHILLIPE ROMBI

Elenco: VALERIA BRUNI TEDESCHI, STEPHANE FREISS, GERALDINE PAILHAS, FRANÇOISE FABIAN, MICHAEL LONSDALE

Duração: 90 min.

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