Críticas


OBRIGADO POR FUMAR

De: JASON REITMAN
Com: AARON ECKHART, MARIA BELLO, WILLIAM H. MACY, SAM ELLIOT, KATIE HOLMES, ROB LOW
01.09.2006
Por Jaime Biaggio
NO RASO, ATÉ QUE FUNCIONA

Nick Naylor, o protagonista deste filme, vivido por Aaron Eckhart, é esperto pra caramba, mas é um escroto. Lobista a serviço das grandes empresas de tabaco, sabe vender seu peixe direitinho, mas seu discurso formatado para agradar é uma enganação só – e ele sabe disso, e joga cinicamente com isso o tempo todo.



E Jason Reitman, o diretor, é igualzinho.



Ok, então não chamarei de escroto quem eu não conheço. Dê-se o benefício da dúvida. É o longa-metragem de estréia dele, depois de seis curtas-metragens. Tem várias falhas típicas de longa de estréia, sendo que a principal é a armadilha em que o leigo imaginaria ver um curta-metragista cair: a de irregularidade no alinhavar das partes em um todo consistente, ou seja, a constatação de que é um longa composto de vários curtas, várias boas cenas sem uma estrutura a uni-las.



Digamos, então, que Obrigado por Fumar seja igualzinho a Nick Naylor. Argumento que, aliás, seria facilmente aplicável como elogio, não fossem personagem e método narrativo velhos caquéticos. No fim das contas, o que esse brinquedo aqui lembra demais é o cinema independente-doido-para-ser-dependente do pós- Pulp Fiction , filmezinhos que emulavam cacoetes de Tarantino crentes de que estavam “agregando valor ao produto” assim ( Coisas para fazer em Denver quando você está Morto é bom exemplo disso).



Claro, ser coisa requentada não significa que o filme não funcione. Aliás, ele funciona que é uma beleza. Presta-se, perfeitamente, a uma sessãozinha de fim de noite, em especial se você for crítico de cinema e não pagar ingresso. Cínico, eu? Bem, é só questão de adequar texto a objeto de estudo.



Mas sério: é assistível, sim, dá até oportunidades para vários atores brilharem (Sam Elliott e Rob Lowe, em especial). Desde que se entenda brilhar por “roubar a cena por três minutos e não voltar a aparecer por cerca de meia hora, que é para disfarçar que esse brilho não iria nunca durar mais do que isso”. Mais uma vez, a lógica de Nick Naylor, lógica de vigarista: distrair, encantar, enrolar, dar o golpe, sumir rápido antes que a vítima perceba.



Uma olhada mais a fundo revela desde uma estrutura preguiçosa, em que os coadjuvantes servem a uma única função (em parte dos casos, como os de William H. Macy e Maria Bello, a uma única CENA, já que todas suas aparições repetem as anteriores), até viradas dramáticas que se sustentam em cima de um moralismo de ditado popular, tipo “quem com ferro fere, com ferro será ferido” (a rasteira que Naylor toma da repórter vivida por Katie Holmes, numa decisão de casting que, ao menos, foge ao óbvio).



Mas vale a pena dar uma olhada mais a fundo em Obrigado Por Fumar ? Esse é o ponto. É mais jogo ficar no raso. Ali, o filme nada direitinho, sem bóia. No que não der mais pé... aí não dá pé.



# OBRIGADO POR FUMAR (THANK YOU FOR SMOKING)

EUA, 2006

Direção: JASON REITMAN

Roteiro: JASON REITMAN, baseado no livro de CHRISTOPHER BUCKLEY

Produção: DAVID O. SACKS

Música: ROLFE KENT

Fotografia: JIM WHITAKER

Elenco: AARON ECKHART, MARIA BELLO, WILLIAM H. MACY, SAM ELLIOT, KATIE HOLMES, ROB LOWE

Duração: 92 minutos



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