Como todo filme de Arturo Ripstein, Carnaval de Sodoma requer do espectador uma certa dose de paciência para penetrar aos poucos nos meandros da história. E para acostumar-se a sua estética expressionista, claustrofóbica e fragmentada. Embora partindo de romance escrito na República Dominicana, Ripstein e sua esposa e co-roteirista rechearam o filme de um ingrediente muito caro à cultura mexicana: a confusão entre sexo sórdido e salvação religiosa. Em frente a uma catedral situa-se o bordel Royal Palace, dirigido por um casal chinês e onde se mantém um misterioso quarto decorado por projeções de cinema. Em cinco perspectivas que se cruzam no tempo, vemos a preparação de uma festa à fantasia e as tentativas dos beatos de fechar o prostíbulo.
Os tipos (a puta azarada, o socialista retardatário, o velho padre que almeja ser santificado em vida etc) trazem um ranço de realismo mágico ultrapassado, assim como o artificialismo teatralizado da encenação. Mas se vencemos essas más impressões da primeira metade, caímos numa alucinada comédia de humor negro com o melhor do diretor. A condição humana surge, então, iluminada pela completa degradação. Ripstein cozinha em fogo brando sua mistura de grotesco, patético, cruel e melancólico. A paciência, nesse caso, compensa.
# CARNAVAL DE SODOMA (EL CARNAVAL DE SODOMA)
Espanha, 2006
Direção: ARTURO RIPSTEIN
Roteiro: ALICIA GARCIADIEGO, sobre romance de PEDRO ANTONIO VALDEZ
Elenco: MARÍA BARRANCO, ALEJANDRO CAMACHO, MARTA AURA, PATRICIA REYES SPÍNDOLA, FERNANDO LUJÁN, GINA MORETT