Em um ano marcado pelo protagonismo dos movimentos feministas que desnudaram o machismo em Hollywood e detonaram uma avalanche de denúncias de assédio, nada mais conveniente do que “empoderar” uma promissora artista como Greta Gerwig, atriz e roteirista em filmes cultuados como “Frances Ha”. As indicações ao Oscar e elogios quase unânimes da crítica americana demonstram que “Lady Bird”, sua estreia solo como diretora, é o filme certo na hora certa e no lugar certo.
No entanto, apesar de todo o hype em torno dele, é um cinema que já nasce velho. Não há frescor algum no tratamento da história do amadurecimento de uma jovem na pequena cidade. As angústias e dilemas envolvendo a perda da virgindade, a relação difícil com a mãe e colegas de escola, as expectativas pré-universidade, tudo isso já foi visto e revisto. Em 1989, com seu filme de estreia “A incrível verdade”, Hal Hartley já abordava alguns desses temas imprimindo uma autoralidade que não se vê no roteiro e na direção de “Lady Bird”.
Clichês de filmes de high school surgem aos montes ao longo da narrativa e vêm disfarçados com uma roupagem indie-fofa que coloca o filme numa zona de conforto da qual nunca se descola. Se as dificuldades financeiras da família da protagonista são enfatizadas às raias da redundância, temas espinhosos e delicados como a depressão enfrentada pelo pai e pelo padre-professor são quase escamoteados na trama. Vale destacar o talento da atriz Saoirse Ronan, que potencializa a complexidade do papel-título, e o bom elenco de apoio que inclui Laurie Metcalf e Tracy Letts como os pais, e a revelação Beanie Feldstein como a amiga Julie, além de boas cenas como as que envolvem a apresentação teatral. Mas ainda assim é muito pouco para tanto barulho.
(Publicado originalmente em O Globo no dia 16.02.2018)