EXCESSO DE DESVIOS
por JAIME BIAGGIO
Não admira que este filme tenha ganho o prêmio do público no Sundance Film Festival, no início do ano. Parece ter sido formatado para isso, com a profundidade de um Casamento Grego (ok, com mais charme) e a atitude, tão comum no cineminha americano dali dos lados de Park City, de, na dúvida entre tratar deste, daquele ou daquele outro tema, jogar logo todos na panela.
A história gira em torno da quinceañera do título original, ou seja, a menina prestes a fazer 15 anos, Magdalena (Emily Rios). Mas ela é apenas o Sol, e aqui cada personagem é um planetinha, com vida própria, conflitos próprios (o que sempre é bom), mas alguns deles dotados da tarefa de carregar Questões Maiores, o que já ajuda a embaçar o foco. A protagonista de Quinceañera engravida sem penetração, e isso, para se ter uma idéia, nem chega a ser a questão central do filme (nem a previsão de uma maternidade inesperada nem o inusitado da situação). Os diretores Richard Glatzer e Wash Westmoreland parecem igualmente interessados em falar do jovem desajustado, desempregado e homossexual Carlos (Jesse Garcia) e do melancólico tio Tomas (Chalo Gonzalez). Na verdade, ao fazer Tomas acolher em sua casa tanto Carlos quanto Magdalena, o filme investe na criação de um núcleo de outsiders que nunca se estrutura verdadeiramente, justamente por excesso de desvios na trama.
Não é um filme verdadeiramente bem realizado, portanto. Mas é perfeitamente assistível, simpático, assimilável pelo público menos afeito ao cinema mais desafiador - mas com um verniz "alternativo". Em outras palavras, dependendo de qual seja sua relação com o cinema e, mais importante, com o Festival do Rio, é o filme perfeito para se assistir no evento ou um filme a se deixar para lá agora e esperar para conferir em DVD.
UM DEBUTE FEITO DE CORES
por MARCELO MOUTINHO
O tom róseo e caricatural que marca as seqüências iniciais de Meus quinze anos antecipa o grande achado desse delicioso filme da dupla Richard Glatzer (ex-assistente de Sidney Lumet) e Wash Westmoreland (conhecido pela direção de produções pornô): o notável uso das cores de cenário e figurino como alegoria dos contrapontos que a trama vai estabelecer. Magdalena é a filha mais nova de uma família mexicana religiosa radicada em Los Angeles. Prestes a completar 15 anos, ela espera ter uma festa à altura do debute da prima mais abastada, que incluiu toda a cafonalha característica de tais eventos: música ao vivo, vestidos ornamentais, a tradicional valsa, além do passeio numa limusine.
Seus sonhos, contudo, são cortados quando se descobre grávida. Expulsa de casa pelo pai, Magdalena vai morar com o tio avô Tomas. O solitário Tomas já abriga em seu lar o desajustado e homossexual Carlos, que, a exemplo da moça, sofre a rejeição da família. É neste novo e deslocado clã de ‘outsiders’ que serão estabelecidos laços de solidariedade capazes de promover uma verdadeira transformação não só nos três, mas nos demais personagens da história, tão ciosos das aparências sociais.
A boa sacada dos diretores é fazer com que esse processo de mudança seja espelhado pela cromatização das imagens. À medida que Magdalena, Carlos e o tio vão enfrentado as naturais dificuldades de lutar contra a falta de grana e experimentar a gravidez precoce, uma afetividade mútua se sedimenta, e as tonalidades do ‘rosa ideal’ que pintavam a tela no começo do filme são paulatinamente trocadas pelas cores concretas que tingem tudo o que é humano. Eis, então, o verdadeiro debute.
# MEUS 15 ANOS (QUINCEAÑERA)
EUA, 2006
Direçãoe Roteiro: RICHARD GLATZER e WASH WESTMORELAND
Elenco: EMILY RIOS, JESSE GARCIA, CHALO GONZALEZ, J.R. CRUZ, ARACELI GUZMAN-RICO
Duração: 90 minutos