É delicioso ver de que forma o conceito de cinema-diversão é aplicado em outros países. O sul-coreano O Hospedeiro não é "filme de festival" (embora tenha sido exibido na Quinzena dos Realizadores de Cannes). Em seu país, foi um Senhor dos Anéis em termos de êxito de bilheteria e de impacto cultural. O diretor Joon-ho Bong simplesmente combinou um destaque do noticiário recente (o despejo de grandes quantidades de formol no rio Han, em Seul, por um empregado de uma base militar norte-americana, em fevereiro de 2000) com um gênero mundialmente popular, o filme de monstro. E fez a melhor resposta que os coreanos indignados poderiam desejar, muito melhor do que um filme-denúncia sisudo: um produto cultural da mesma estirpe dos Jurassic Park que dominam cinemas mundo afora, com banca para conquistar o seu próprio mercado (o que conseguiu).
Para nós, que nada temos a ver com isso, é curioso ver que elementos O Hospedeiro utiliza, em justaposição aos de que o cinema ocidental geralmente lança mão em filmes deste gênero. A comicidade aqui, por exemplo, é muito mais acentuada, e aparenta ser algo com que se lida com naturalidade: uma cena pode trazer elementos de comédia bufa sem ser propriamente engraçada na sua essência, o que é desconcertante para quem está habituado a ver ou comédias ou filmes de ação.
Por outro lado, O Hospedeiro utiliza um argumento-base muito próximo aos de que o cinema ocidental geralmente lança mão em situações do tipo: apesar de tratar de assuntos macro (um monstro no rio que corta Seul e uma suposta epidemia de um vírus mortífero), se concentra o quanto possível num núcleo familiar afetado pela situação, investindo em temas familiares como redenção e heroísmo individual.
Certamente é um filme de gênero, sendo possível se relacionar com ele a partir de uma leitura trash e/ou B, embora isso seja bem reducionista: O Hospedeiro é mais interessante do que pode parecer a quem só encará-lo como "aquele filme coreano de monstro".
# O HOSPEDEIRO (GWOEMUL)
Coréia do Sul/Japão, 2006
Direção: BONG JUN HO
Elenco: SONG KANG-HO, BYEON HIE-BONG, PARK HAE-IL
Duração: 119 minutos
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