Antes mesmo que Oliver Stone (As Torres Gêmeas) e Paul Greengrass (Vôo 93) reconstituíssem momentos de horror do 11 de setembro, Wim Wenders já havia lançado seu estudo das repercussões morais do ataque na vida dos EUA. A cultura da paranóia talvez tenha sido o dano mais duradouro causado pelos aviões desviados de suas rotas. Como uma metáfora viva e ambulante desse sentimento, dois anos depois, um veterano do Vietnã patrulha as ruas de Los Angeles à caça de terroristas em potencial. Para Paul (John Diehl), cada desconhecido é um “suspeito”. Até garrafas de detergente requerem um exame mais cuidadoso. É quando sua sobrinha (Michelle Williams) chega de Israel com uma perspectiva mais crítica, comprometida com o trabalho social. Desse confronto de visões, Wenders vai chegar à conclusão de que um tumor em metástase corrói os nervos do país.
O título original, Land of Plenty (Terra de Fartura), não deixa dúvidas quanto à pretensão do diretor: ampliar a síndrome do 11/9 para um diagnóstico mais geral do país dividido entre ricos e pobres, imigrantes e nacionais, patrioteiros e liberais. Cada banda tem seu discurso e seu ambiente, explicitados em programas de rádio e em sucessivos monólogos dos personagens. O problema é que Medo e Obsessão sublinha o óbvio e prega para convertidos. Wenders, embora recalque o estilo em benefício de uma abordagem “documental” (em vídeo digital), pouco faz para alcançar um público mais amplo que o seu tradicional, provavelmente mais afeito à receita liberal. O que temos é mais um caso de restauração de laços familiares e um olhar estrangeiro sobre as fissuras da sociedade nos EUA. Politicamente esquemático, o filme acaba soando raso para tema tão complexo.
# MEDO E OBSESSÃO (LAND OF PLENTY)
EUA/Alemanha, 2004
Direção: WIM WENDERS
Roteiro: MICHAEL MEREDITH e WIM WENDERS, sobre argumento de SCOTT DERRICKSON
Fotografia: FRANZ LUSTIG
Montagem: MORITZ LAUBE
Música: NACKT, THOM
Elenco: JOHN DIEHL, MICHELLE WILLIAMS, SHAUN TOUB, BURT YOUNG
Duração: 123 minutos
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