Assim como a obra premiada com o Oscar de filme em língua não-inglesa em 2015, “IDA”, abordou o antissemitismo e colaboracionismo polonês na época do nazismo, o filme “1945” trata das mesmas questões, só que na Hungria.
Tal como IDA, é filmado em expressivo preto-e-branco, privilegiando exteriores, ao contrário do filme polonês. A ação se passa no final imediato da II Guerra, enquanto no outro filme os fatos denunciados eram resultado de uma pesquisa em tempos posteriores à guerra. Em ambos, a mesquinhez e o oportunismo mais vil. Em “1945”, tais atitudes propiciam culpas em várias pessoas, mas apenas quanto ao medo de serem cobrados por seus atos indignos; ou seja, uma “culpa persecutória” - como é chamada em psicanálise - jamais uma “culpa reparadora” realmente sentida e arrependida.
“Eles voltaram” é a curta frase que a todo instante é comunicada entre os habitantes de um pequeno vilarejo em dia de festa: um casamento está marcado. A ameaça pior, há poucos meses da rendição alemã, seria se os nazistas estivessem retornando? Não: são dois judeus bastante silenciosos que chegaram de trem, vivenciados pelos locais como se fossem fantasmas egressos do mundo dos mortos para assombrar... quem tiver do que se culpar. E não são poucos, mesmo numa amostragem tão pequena.
Além do cultuado Béla Tarr, o cinema húngaro, pouco depois do ótimo “Corpo e Alma” (indicado ao Oscar deste ano) mostra que tem outros cineastas de qualidade. Ainda recentemente também tivemos o premiado “O Filho de Saul”, e mesmo que este “1945” não chegue a ser tão original como os demais citados, merece - e muito - ser visto. O diretor e co-roteirsta é Ferenc Török, com quase vinte anos de carreira em seu país. Outro nome para ser acompanhado.