Críticas


À SOMBRA DE DUAS MULHERES

De: PHILIPPE GARREL
Com: STANISLAS MERHAR, CLOTILDE COUREAU, LENA PAUGAN.
12.05.2018
Por Luiz Fernando Gallego
O encanto está no enredo muito prosaico narrado com toques de Rohmer e Truffaut.

Para os fãs do diretor Philippe Garrel pode parecer injusto, mas há que se considerar que a presença de Jean-Claude Carrière em seus dois últimos filmes como co-roteirista pode estar contribuindo para resultados mais interessantes. Como interessantes não aludimos aos roteiros que Carrière escreveu com Buñuel, pelo contrário, entenda-se a relativa banalidade do tema "triângulo amoroso", coisa que Garrel já vinha abordando anteriormente ao falar de infidelidades amorosas destruindo amores que mereceriam segundas chances - ainda que raramente isto aconteça em seus filmes.

Este À Sombra de duas mulheres (título original: L’Ombre de Femmes) é de uma enorme simplicidade na história narrada com a sofisticação do estilo do diretor, um saudoso epígono da nouvelle vague que tenta se manter fiel ao preto-e-branco dos primeiros exemplares do movimento, com uso pertinente da tela larga e bastante diálogos. E olhar acurado sobre o prosaico enredo de adultérios. Desta vez, o olhar da câmera conta com a fotografia de Renato Berta (que já trabalhou para Resnais e Louis Malle) em vez de Willy Durant ou do mais famoso William Lubtchansky, cada qual responsável por dois dos quatro filmes anteriores do diretor. Ele repetirá Berta no filme seguinte, Amante por um dia (de 2017), estreado aqui pouco antes de “À Sombra...” que é de 2015.

O fato é que o time atual está ganhando, deixando os novos filmes de Garrel ainda mais próximos ao que de melhor havia em Eric Rohmer e com um toque truffautiano na narrativa em off (feita pelo filho do diretor, o ator e também cineasta eventual Louis Garrel), assim como na aparente banalidade dos temas abordados: um cineasta inédito tenta filmar seu primeiro documentário sobre um antigo resistente dos anos de ocupação, tendo total apoio de sua dedicada esposa; mas ele não é imune à atração de outra mulher, justificando-se para si próprio de modo tradicionalmente machista, o adultério como “coisa de homens”. Não vale a pena dizer mais nada sobre o desenrolar deste gancho tão comum. Não prima pela imprevisibilidade, mas o encanto está exatamente no modo mais afetivo do que em outros filmes do diretor ao enfocar algo tão corriqueiro. Os atores estão muito bem, com destaque para Clotilde Coureau como a esposa de Stanislas Merhar que faz o marido de expressão quase sempre impassível.

O que chama atenção como fator "diferente" é a abordagem de uma Paris mais pobre que raramente aparece nas telas com ambientes muito simples onde os personagens transitam. No mais, outro encanto do filme é sua pegada intencionalmente "antiga" para os espectadores que entrarem neste clima.

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