Críticas


FESTIVAL DO RIO 2006: SAPATIN, O ATIRADOR DE FACAS

De: PIOTR TRZASKALSKI
Com: KONSTANTIN LAVRONENKO, JACEK BRACIAK, MONIKA BUCHOWIEC
26.09.2006
Por Marcelo Janot
ATIRANDO FACAS NO FUTURO DO LESTE EUROPEU

Vencedor do prêmio da crítica internacional (Fipresci) no último Festival de Miami, Sapatin, O Atirador de Facas (The Master – Mistrz) começa mostrando um garoto cego num jardim, o vento soprando folhas de outono em volta dele. Depois, somos apresentados a um homem conhecido como “The Master”, um atirador de facas circense, que, alcoolizado, se tranca em uma das jaulas após deixar os animais escaparem. No dia seguinte ele é demitido e decide percorrer num ônibus as estradas da Polônia apresentando-se como o circo de um homem só. Mas ele tem ambições maiores. Quer chegar a Paris e ser reconhecido artisticamente “como Chagall e Magritte”, como afirma.



Um menino cego que sente o sopro da liberdade no rosto mas não pode enxergar o futuro; o artista preso na jaula e os animais em liberdade. Essas primeiras metáforas expressam, sutilmente, o comentário político do diretor. Mais adiante, o ônibus-circo começa a ganhar novos passageiros, como um misterioso tocador de acordeão e uma prostituta que é salva pelo atirador de facas quando tentavam violentá-la. Eles viajam juntos pelo interior encantando pessoas com os números quase mágicos do Master. Até que ele alcança, se não o seu sonho parisiense, ao menos a capacidade de levitar sobre espadas afiadas, o que parece muito mais um dom sobrenatural do que um truque de ilusionismo.



Duas pessoas contribuem para fazer os espectadores, assim como a platéia dos espetáculos, acreditarem no que estão vendo: o ator Konstantin Lavronenko, em brilhante interpretação, e o diretor de fotografia Piotr Sliskowski. Lavronenko, que teve atuação memorável como o pai no filme russo O Retorno, mais uma vez interpreta um sujeito durão, que expressa seus sentimentos de maneira bem peculiar. Mas, ao contrário da economia de palavras do pai em O Retorno, o Master fala à beça. Já Sliskowski contribui com uma impressionante fotografia em cinemascope. É até difícil acreditar que ele tenha filmado aqueles longos travellings em digital e não em película, especialmente a cena no lago em que o bote é envolvido pela neblina, criando uma atmosfera onírica.



No primeiro filme de Piotr Trzaskalski, Edi, vencedor do prêmio ecumênico e do prêmio da crítica em Berlim-2003, ele lidava com questões sociais européias, introduzindo algumas parábolas religiosas que podem ser associadas ao budismo. De certa forma, ele faz o mesmo em seu segundo longa, já que Sapatin, O Atirador de Facas não deixa de ser um filme sobre cidadãos do Leste Europeu buscando seu lugar no mundo contemporâneo.



# SAPATIN, O ATIRADOR DE FACAS (THE MASTER - MISTRZ)

Polônia, 20056

Direção: PIOTR TRZASKALSKI

Elenco: KONSTANTIN LAVRONENKO, JACEK BRACIAK, MONIKA BUCHOWIEC

Duração: 117 minutos

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