Críticas


FESTIVAL DO RIO 2006: O PEIXE SE APAIXONA

De: ALI RAFIFI
Com: REZA KIANIAN, ROYA NONAHALI, GOLSHIFTEH FARAHANI
26.09.2006
Por João Mattos
A ARTE DE CONCLUIR

ATENÇÃO: ESTE TEXTO DISCUTE A MANEIRA COMO O FILME É ENCERRADO.



É educativa e bem-vinda a iniciativa do Festival do Rio em apresentar a sessão Novas Imagens do Irã, para oferecer visões alternativas ao nosso senso comum tanto de estilo como de nomes referentes à esta cinematografia – por mais certo que esteja este senso, no caso de um Abbas Kiarostami, dos melhores cineastas do mundo, ou por mais que esteve um dia, no caso do hoje esclerosado artisticamente Mohsen Makhmalbaf, presente ao festival com o intragável O Grito das Formigas.



E se este O Peixe se Apaixona oferece uma trama similar à tantas outras (ex-revolucionário do passado, que gostava de desenhar Marx, Che Guevara e Antonio Gramsci, que têm retratos mostrados, se reencontra com suas raízes culturais e pessoais), o recorte específico tem interesse, no mínimo, antropológico (este homem volta à propriedade na qual o grande amor de sua vida, que abandonou, administra restaurante com a filha e duas amigas, numa situação de independência feminina rara na sociedade iraniana); e em mais de uma vertente (ao exibir pratos da cozinha local, uma das menos conhecidas no exterior, e elogiada pelo uso do cordeiro e do pato).



Tudo isto faz o interesse mor, nunca a ser descartado, mas também o limite claro da realização. Bom uso dos planos médios, uma câmera calma, uma condução correta não amenizam alguns dos defeitos como certos diálogos fracos, e o fato de que as duas personagens femininas coadjuvantes das amigas têm a simpatia inicial dissipada pelo excesso de feminice fofa de ambas, e a forma como se insiste nisso.



Onde o filme se eleva do comum, é por causa do final, tanto para a mãe quanto para a filha, uma lição dupla de elipse, de economia dramática, de coisa subentendida sem a necessidade de ênfase: vemos o namorado da filha do lado de fora, e aí a campainha toca quando a moça está na cozinha; a mãe dentro de um carro perto da porta da propriedade campestre na qual ela vai se encontrar com o homem, e acontece uma fusão do plano da casa com um desenho. Pronto. As duas serão felizes com seus amores. Parece simples, e é, mas sem mostrar o que acontecerá – e isto não significa também que se mostrasse seria ruim, apenas que aquilo foi feito mostrou-se um acerto – O Peixe Se Apaixona conclui da melhor maneira possível. E concluir mal é um dos defeitos mais óbvios do atual momento do cinema em todo o mundo.



Em tempo: as atrizes que fazem mãe e filha, Roya Nonahali e Golshifteh Farahani, pela beleza encantadora (típica da região), merecem fazer parte do time das musas do Festival: a mãe é até mais bonita que a filha, mas quando numa cena, a moça sorri com timidez e põe as duas mãos no rosto meio envergonhada por ter sido mal compreendida..., impossível não abrir também um sorriso.



O PEIXE SE APAIXONA (Mahiha Ashegh Mishavand)

Irã, 2005

Direção: ALI RAFIFI

Elenco: REZA KIANIAN, ROYA NONAHALI, GOLSHIFTEH FARAHANI, MARYAM SAADAT

Duração: 96 min.

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