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TODAS AS MULHERES DO MUNDO

01.07.2002
Por Ricardo Cota
O PRAZER E O BEM-ESTAR DA COMÉDIA CARIOCA

No livro Ela é Carioca – subintitulado Uma Enciclopédia de Ipanema - Ruy Castro refere-se da seguinte forma aos agitos que ocorriam no cafofo do teatrólogo Domingos Oliveira, em Copacabana: “As festas de Domingos eram famosas (para Jaguar, elas formaram o núcleo da Ipanema moderna) e não era incomum que, no dia seguinte, acordassem vinte pessoas no apartamento”. Pois foi numa dessas noitadas que Domingos conheceu e apaixonou-se por Leila Diniz. O romance marcou de tal forma a vida do cineasta que inspirou aquele que é seu mais conhecido, e melhor, filme – Todas as Mulheres do Mundo.



Visto hoje, 36 anos depois de realizado, Todas as Mulheres do Mundo sustenta-se como marco de um gênero tipicamente nosso: a comédia carioca. Carioca da zona sul, diga-se de passagem, com seus personagens divididos entre a consciência política e os goles de uísque, entre os livros de Marx e os biquinis provocantes, entre a guerra contra a ditadura e a paz da saudável libertinagem. Mas não é só pela deliciosa verve cômica (a mesma vista em Amores, último longa de Domingos Oliveira) que o filme permanece atraente. Todas as Mulheres do Mundo vale ainda como documento, registro de uma zona sul que não existe mais: poética, polêmica, etílica e idílica.



Paulo (Paulo José) é um jornalista boa vida que passa a maior parte do tempo colecionando paqueras. Só quando conhece Maria Alice (Leila Diniz), noiva do amigo Leopoldo (Ivan de Albuquerque), decide dar um tempo no esporte, namorar firme e, para grande decepção dos amigos, casar. O matrimônio vai bem até pintarem o ciúme e a recaída no donjuanismo. Enquanto as brigas e reconciliações se sucedem, Domingos Oliveira aproveita para traçar comentários sociais, zombando dos existencialistas e enaltecendo os boêmios, muito bem representados num personagem vivido por ninguém menos que o saudoso Albino Pinheiro, grande carioca e tricolor.



Todas as Mulheres do Mundo, com bela fotografia de Mário Carneiro, faz do Rio cinema. Os personagens levam a poesia de suas histórias comuns para as ruas do centro da cidade, o calçadão de Copacabana e a Ipanema de poucos prédios e muitas palmeiras (o melhor lugar para um amasso, como é sugerido numa seqüência). Há ainda o calor das madrugadas e o charme irresistível dos cariocas: alegres, apaixonados e encantadores. Em linha paralela ao estipulado pelo Cinema Novo, o filme reivindica o direito ao prazer, ao bem-estar, como primeiro passo rumo à transformação.



A cópia em DVD traz ainda alguns extras que só aumentam a nostalgia dos anos dourados da zona sul. As excelentes entrevistas com Domingos Oliveira e Paulo José transportam o espectador para o clima das filmagens e para o espírito do tempo em que ser carioca, como bem definiu O Pasquim, era ser contra o governo e a favor da vida. Biografias, filmografias e fotos de época completam o serviço deste DVD obrigatório para os que amam o cinema e o Rio de Janeiro na mesma proporção.



Para quem viveu os anos 60, rever Todas as Mulheres do Mundo, acredito, deve dar uma baita saudade; para quem sequer era nascido, acredite, também.





# TODAS AS MULHERES DO MUNDO



Direção e Roteiro: DOMINGOS OLIVEIRA

Fotografia: MARIO CARNEIRO

Elenco: PAULO JOSÉ, LEILA DINIZ, JOANA FOMM

Ano de produção: 1966

Duração: 86 minutos

Região do DVD: Multi-Região

Legenda: Inglês, Português

Formato de Tela: Full Screen

Extras: Biografias / Filmografias / Domingos fala de Leila / Depoimento do Diretor / Homenagem a Leila Diniz com fotos inéditas, capas de revistas e pôsteres.

Distribuidor: Versátil Home Vídeo

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