Henfil um dia disse preferir o cinema à tinta, e justificou: “O cinema não coagula”. Se vivo fosse, provavelmente ficaria satisfeito com esse documentário-homenagem a ele e seus irmãos Betinho e Chico Mário. O filme flui como as notas no belíssimo arranjo “sangüíneo” que Wagner Tiso fez para a composição Ressurreição, de Chico Mário. Apesar de algumas poucas ilustrações banais, uma fragmentação às vezes indesejável e do tom mais celebratório que propriamente informativo (como em O Sol, de Tetê Moraes), o roteiro de Ângela Patrícia Reiniger e Cristiano Gualda consegue percorrer as três histórias ao mesmo tempo em que sublinha aquilo que as unia: o apego a valores como liberdade, justiça e amor pelo país.
Três Irmãos de Sangue trabalha com algumas idéias-força: a noção de família expandida para uma concepção mais ampla de solidariedade; a concretude da política traduzida para ideais metafísicos e afetivos; a superação do limite da morte pela consciência de que todo trabalho humano pode render frutos para além da existência do autor. Tudo isso perpassa os depoimentos de e sobre os três irmãos hemofílicos que desde crianças lutaram contra o fim iminente. O investimento na emoção é compreensível dentro da opção da diretora. E mesmo pelos personagens. Afinal, em se tratando desse trio, a emoção sempre foi um exercício da razão.
# TRÊS IRMÃOS DE SANGUE
Brasil, 2005
Direção: ÂNGELA PATRÍCIA REINIGER
Duração: 103 minutos