Críticas


PODRES DE RICOS

De: JON M. CHU
Com: CONTANCE WU, HENRY GOLDING, MICHELLE YEOH.
25.10.2018
Por Luiz Fernando Gallego
Um amontoado de clichês das mais antigas comédias românticas com toques de chanchada e melodrama.

Por lembrar títulos de antigas chanchadas brasileiras dos anos 1950, não deixa de ter sido bem escolhido o título nacional, Podres de Ricos para Crazy Rich Asians, comédia romântica dirigida por Jon M. Chu, americano de origem oriental - assim como sua personagem central, Rachel Chu, uma sino-americana que é interpretada por Constance Wu. Rachel é professora de economia da NYU (!) e namora Nick Young (vivido por Henry Golding, ex-modelo que estreou neste filme e também esteve no recentemente lançado Um Pequeno Favor) sem que ela saiba que ele é uma espécie de “príncipe herdeiro” da família mais rica de Singapura. Riquíssima.

A música de abertura já faz lembrar (aos menos jovens) temas de antigas comédias americanas dos anos 1960, geralmente com Sandra Dee ou Doris Day, embora o roteiro repita clichês bastante batidos de outros filmes, tais como O Diabo veste Prada (2006) - que, por sua vez, lembrava bastante o enredo do clássico Cinderela de Paris (1957). Não é que a Rachel deste filme seja mais uma intelectual que acabe aderindo aos valores mais superficiais da alta costura, mas em algum momento da historieta ela vai tomar o famoso banho de boutique para tentar lutar com as mesmas armas locais contra outras moças que gostariam de estar no lugar dela; mas, principalmente, para enfrentar a mãe e tias do namorado com seus valores familiares praticamente xenófobos. Pois para a talvez-futura-sogra (megera, como de praxe), não basta que Rachel saiba falar a língua local: ela não passa de uma sino-americana mais presa aos “valores da paixão” e individualistas do que aos da submissão familiar. Mesmo tendo passado por algo semelhante no passado quando casou com o pai de Nick, sua mãe, interpretada com todos os estereótipos de vilã “chique” de novela barata por Michelle Yeoh (de O Tigre e o Dragão e de um daqueles 007 na fase Pierce Brosnan), repete o que sofreu para cima da namorada do filho. É curioso que a religião explícita da família seja Metodista, nada a ver com valores orientais de origem.

Não faltam os equivalentes a um “fada-padrinho” (gay, claro!) que vai vestir a mocinha para arrasar num evento social. E nem a “amiga da mocinha” gaiata, com jeitão de uma Dercy Gonçalves jovem. A antiga piada (?) que mostra uma pessoa prestes a beber a lavanda que serve para higienizar os dedos também está lá. Os momentos melodramáticos igualmente não estão ausentes, especialmente no enjoadinho enredo paralelo que aborda um casamento análogo ao que poderia vir a ser o de Nick com Rachel, mas com os papéis trocados para esposa rica e marido de origem “plebeia”, fazendo do filme um amontoado de clichês que as plateias parecem adorar ver e rever em versões pioradas, tornando-se um sucesso de bilheteria que já anuncia uma continuação ou duas, já que o roteiro é baseado numa trilogia de livros. O roteiro, como era de se esperar, tem todas as reviravoltinhas dos manuais mais simplórios de como escrever para o cinema do modo mais preguiçoso possível.

Tudo isso com aquele luxo cafona com que o filme pretende criticar os excessos dos tais "podres de ricos". Sem deixar de apontar como ter tanta riqueza pode não trazer a felicidade amorosa (como "consolação") ao mesmo tempo em que mostra como é bom ter tantos bens materiais. O cinema mais antiquado de Hollywood já fez muito melhor no passado em matéria de proporcionar divertimento "alienado" da dura realidade do comum dos mortais.

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