Críticas


MEU QUERIDO FILHO

De: MOHAMED BEN ATTIA
Com: MOHAMED DHRIF, MOUNA MEJRI, ZAKARIA BEN AYYED
02.01.2019
Por Luiz Fernando Gallego
A pegada naturalista domina o filme, com uma mudança radical de tom em um breve trecho definidor.

Quem tiver assistido A Amante (título original Hedi), do mesmo diretor tunisiano, Mohamed Ben Attia, poderá supor que este seu novo filme, Meu Querido Filho (título original Weldi) aborda questões semelhantes ligadas ao aprisionamento familiar de um homem adulto (no filme anterior) ou de um jovem (no caso deste filme). Os pais de Sami Saidi, 17 anos, são bastante interferentes em sua vida, causando um aparente desconforto no adolescente em idade de prestar vestibular. Só que o desconforto do rapaz é de ordem bastante diversa, assim como o tema central do filme é bem mais amplo do que um prosaico melodrama familiar, ainda que a questão repercuta para os pais de modo central no enredo, a partir da angústia que eles terão de enfrentar com uma súbita partida do filho.

Na verdade, o personagem principal é o pai, Riadh, em idade de se aposentar. Ele trabalha com máquinas pesadas no porto e é uma figura simples, até mesmo simplória, um tipo universal de homem rude, dedicado à família, ambicionando para o filho uma situação social mais importante do que a sua. Se lhe falta um documento do carro, ele oferece propina ao guarda, o que parece ser um hábito comum em seu ambiente. Tal "pragmatismo" vai lhe ser exigido como nunca na busca pelo rapaz. Serão muitos esforços e investimentos feitos pelo pai na procura ao filho.

O retrato naturalista da vida do casal já bem maduro, Riahd e Nazli, é desenvolvido com toques que lembram os filmes dos Irmãos Dardenne, não por acaso, co-produtores. Há um momento, entretanto, em que o filme escapa desta pegada, mudando a fotografia que fica de repente mais “luminosa” e com um belo enquadramento que marca a mudança de tom que vai ser mantido em umas poucas tomadas seguintes: uma sequência chave para definir o que se segue. Este trecho pode soar ambíguo para alguns, definidor para outros espectadores. Retomada a narrativa no estilo anterior, o filme vai ter uma evolução desconcertante.

Tudo indica que o trio de atores centrais (e mais alguns outros) são estreantes, ou não-atores, capazes de emprestar uma verossimilhança comovente ao drama, especialmente no caso de Mohamed Dhrif que interpreta o pai.

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário