Críticas


FLYBOYS

De: TONY BILL
Com: JAMES FRANCO, JEAN RENO, JENIFER DECKER
30.10.2006
Por João Mattos
HERÓI MALTRATA O HEROÍSMO

O termo a última guerra romântica em geral é usado para se referir à Segunda Guerra Mundial, e não à Primeira, época em que se passa o épico de guerra Flyboys. Mas se o significado do termo romântico, cai em contradição com a própria natureza deste tipo de evento, Flyboys mostra como se este título é realmente cabível em se tratando do que trata, cai muito melhor para a Primeira; esta foi uma guerra artesanal, manufaturada. Em uma cena há a renúncia de uma possibilidade de ataque que soa como um ato de gentileza, melhor, de honra entre combatentes, chocante a quem está acostumado com as atrocidades sem limites dos conflitos das últimas décadas.



A reconstituição da história real de jovens americanos que se juntaram ao exército francês como voluntários no combate contra a Alemanha, antes da entrada oficial dos EUA no conflito, mostra bem isso. Nossos olhos observam com uma quase incredulidade aquelas casquinhas de noz voando pelos céus sem um décimo dos recursos disponíveis nos modernos jatos de guerra e do belicismo digital. Politicamente, o filme foi lido por algumas pessoas no exterior como uma metáfora pró-Bush contra o fato da França não ter aderido à guerra do Iraque, o que não só é uma pândega por si só (e mais um exagerado volteio de interpretação dos paranóicos com Bush), como fica bem claro no filme que o governo americano, absurdamente, não soube reconhecer o esforço de alguns rapazes – em especial o negro do grupo.



A estrutura de fita de guerra à moda antiga de Flyboys (psicologia dos personagens, relação plástica e moral da câmera com os objetos narrativos, forma de decupagem), celebra, não um ardor guerreiro, mas o despreendimento juvenil de quem arriscou a vida. Tony Bill, o diretor, é é bem mediano, fez filmes horríveis (Coração Indomável), os bons, Cuidado com Meu Guarda-Costas (clássico da televisiva Sessão da Tarde nos anos 80) e Vingança Tardia; e uma versão bem interessante, sob a forma de trama ficcional (estrelada por Holly Hunter) e feita para a TV, daquele famoso e premiado documentário sobre uma impactante greve trabalhista nos EUA Harlan County – USA - a dirigida por Bill se chama Harlam County War.



A direção dele aqui tem o tom discreto que se pode esperar de um artesão num momento correto, estabelecendo bem um compasso de espera entre as várias cenas de batalha área e a distribuição de historietas entre diferentes personagens dos jovens combatentes – neste caso, aliás, é sucinta e adequada a cena em que o jovem rico se desculpa pela sua intolerância racial. Todas as cenas áreas são bem realizadas, contendo a dose exata de precisão tecnológica e fôlego narrativo, sem parecerem exibicionistas em demasia; destaque para o sacrifício e o Zeppelin, e a hora do faroeste, da pistola.



Pena que o intérprete do personagem central entre os jovens (até nisso é épico de guerra antiquado: tem núcleo de personagens, mas necessariamente privilegia um), seja feito por James Franco. Depois do período de galãzinho de comédias juvenis, ele entrou no atuar adulto ao fazer James Dean num telefilme (ganhou até um Globo de Ouro por isso); era uma interpretação caricata e maneirista, na qual Franco mimetizava os caracteres das interpretações de Dean e de outros formados pelo Actors Studio (Brando, Clift, etc), no que tinham de mais rasos. Desde então, não os abandonou. Se Flyboys fosse grande no todo, e não apenas correto, talvez este defeito pudesse até ser minimizado, pois sim, é possível haver um grande filme sem uma grande atuação central. Não é o caso.



FLYBOYS

EUA, 2006

Direção: TONY BILL

Roteiro: BLAKE T. EVANS, PHIL SEARS, DAVID S. WARD

Fotografia: TREVOR RABIN

Montagem: CHRIS BLUNDEN, RON ROSEN

Elenco: JAMES FRANCO, JEAN RENO, JENIFER DECKER, MARTIN HENDERSON

Duração: 139 min

Site: www.mgm.com/flyboys/

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário