Críticas


1972

De: JOSÉ EMILIO RONDEAU
Com: RAFAEL ROCHA, DANDARA OHANA GUERRA, BEM GIL, FÁBIO AZEVEDO
28.11.2006
Por Marcelo Janot
"MALHAÇÃO" EM 1972

A história recente do cinema brasileiro registra dois modos distintos de se fazer filmes para o público adolescente: um bem-sucedido e outro desastroso. No primeiro caso está o diretor Jorge Furtado, que com Houve Uma Vez Dois Verões e Meu Tio Matou um Cara desenvolveu uma linguagem própria em que estabeleceu uma comunicação com seu público-alvo sem recorrer a cacoetes do que se supõe ser o universo adolescente nos dias de hoje. Os exemplos mal-sucedidos são aqueles que naufragam, ou por achar que a comunicação se estabelece automaticamente, simplesmente reproduzindo os estereótipos da “geração MTV” (caso de Seja o que Deus Quiser, de Murilo Salles), ou aqueles que pressupõem um espectador ingênuo a ponto de se encantar com clichês em linguagem de folhetim. Neste último caso, está 1972, do jornalista e agora cineasta José Emilio Rondeau.



Os equívocos do filme de Rondeau começam no conceito: um filme com linguagem adolescente que tem como chamariz a nostalgia de uma época, no caso o ano de 1972. Portanto, um filme feito para “adolescentes” na faixa dos 50 anos, com cara de episódio (ruim) de Malhação. Impossível dar certo.



Para piorar, 1972 está sendo lançado ao mesmo tempo em que outros dois bons filmes ambientados na mesma época: O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburguer, e Eu Me Lembro, de Edgard Navarro, o que só faz acentuar ainda mais seus defeitos. Enquanto estes oferecem uma leitura rica e reflexiva de um período rico da história brasileira, o filme de Rondeau a ignora quase solenemente. Os “adolescentes de 50 anos” que levarem seus filhos na expectativa de mostrar como era o Brasil na época em que tinham a idade deles, vão penar para explicar o que representa um personagem tão mal desenhado como o de Toni Tornado.



As outras questões levantadas pelo filme meramente reproduzem, sem qualquer criatividade, clichês gastos: o romance entre um casal pertencente a classe ou universo diferentes (no caso, ele suburbano, ela menina da Zona Sul carioca) e o sonho de fazer sucesso com a banda de rock. É impressionante como o roteiro desperdiça a chance de revisitar um Rio de Janeiro que fervia culturalmente na mesma proporção em que a PM baixava o sarrafo. O personagem do lendário radialista Big Boy (interpretado por Claudio Gabriel) é a melhor coisa do filme e a única – tímida – tentativa nesse sentido. Além, é claro, das imagens de sempre da Praia do Arpoador.



1972 é inspirado no romance do próprio diretor com a jornalista Ana Maria Bahiana, que assina a produção do filme e, em co-autoria com ele, o roteiro. Nada contra filmes pessoais ou biográficos, vide o exemplo do já citado Eu Me Lembro. O problema é que nesses casos há o risco de o filme ser tratado como um filho, lindo e perfeito, e aí fica mais difícil ainda um distanciamento crítico para enxergar os defeitos da própria cria.



Para quem está de fora, é fácil perceber que os realizadores não são do ramo. O roteiro, além dos problemas mencionados acima, tem diálogos constrangedores, e o elenco, formado em sua maioria por atores inexperientes, está péssimo, deixando claro que sentiram falta de alguém a dirigi-los de verdade. Deve ser emocionante ver a sua própria bela história de amor imortalizada nas telas. Mas, no futuro, 1972 só vai servir pra nos lembrar que o fazer cinema está longe de ser um conto de fadas.



# 1972

Brasil, 2006

Direção: JOSÉ EMILIO RONDEAU

Roteiro: ANA MARIA BAHIANA E JOSÉ EMILIO RONDEAU

Produção: ANA MARIA BAHIANA, LUCIA FARES E TARCÍSIO VIDIGAL

Fotografia: MARCELO DURST

Edição: JOÃO PAULO CARVALHO

Música: CLAUDIO ARAUJO E RENATO LADEIRA

Elenco: RAFAEL ROCHA, DANDARA OHANA GUERRA, BEM GIL, FÁBIO AZEVEDO, DEBORAH LAMM, TONI TORNADO, LUCIO MAURO FILHO, LOUISE CARDOSO.

Duração: 100 min.

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