Críticas


BOM ANO, UM

De: RIDLEY SCOTT
Com: RUSSELL CROWE, ALBERT FINNEY, ABBIE CORNISH
07.12.2006
Por Maria Silvia Camargo
SAFRA PREGUIÇOSA

A certa altura do filme Um Bom Ano , de Ridley Scott, um amigo do personagem principal, o workaholic Max Skinner (Russell Crowe) lhe diz pelo telefone: "Então, o que você vai fazer aí na Provence quando cansar de comer, beber e dormir? Escrever um livro?". Deve ter sido isto que Peter Mayle fez em 1988, após umas férias longe do trabalho: escreveu o livro que dá título ao filme, depois chamou o diretor e o ator principal para o imitarem. Isto não seria nada demais, caso nestas férias quase nada tivesse acontecido. Aliás, reza a lenda que foi assim mesmo: o publicitário Mayle foi de férias para os vinhedos franceses, ficou por lá e, por sugestão de seu amigo Ridley Scott, escreveu o best-seller Um Ano na Provence. Por sua vez, Scott, que tem um chateau no mesmo local e é amigo de seu ator em Gladiador ... De quebra, o roteirista Marc Klein ficou quase um ano pesquisando a região. Ótimo para os quatro, mas, o que o espectador leva para casa de Um Bom Ano, além das lindas paisagens do interior da França? A certeza de que Russell Crowe nada tem a ver com comédia.



Crowe fazendo comédia é um erro comparável ao de se convocar Jerry Lewis para atuar em Blade Runner . E como o enredo é aquele previsível - workaholic e milionário descobre o valor das coisas simples da vida -, se o elenco não tem um jeitinho todo especial de dizer aquelas coisas que já sabemos que vamos ouvir... Existem, aliás, duas atuações que dão vida aos já mastigados diálogos que o filme reapresenta: Albert Finney como o Tio Henry e Didier Bourdon (Francis). Eles são os únicos seres humanos pelos quais Max Skinner (Crowe) tem algum afeto. Ao tio, por tê-lo criado quando seus pais morreram, e a Francis, por ser o braço direito do tio nos vinhedos. Mas Max se transforma num adulto tão estranho que, mesmo gostando dos dois, não fala com eles há dez anos. Quando o filme começa, ele vive na bolsa de valores de Londres, onde arremata milhões do dia para a noite, sendo ousado e ultrapassando vários limites éticos. Só que um dia recebe uma carta dizendo que seu tio faleceu e lhe deixou a propriedade produtora de vinhos. É quando decide passar um dia na propriedade antes de vendê-la. E lá chegando....



As paisagens do interior da França são deslumbrantes e todo o empenho do diretor de fotografia Philippe Le Sourd e a experiência publicitária de Ridley Scott podem ser sentidos nas cenas em flashback. Aos poucos, Max Skinner lembra que gostava mais do tio do que gostaria de admitir e estes são os momentos mais relevantes do filme. Além disto, Francis é engraçado e tem uma esposa, Ludivine (Isabelle Candelier) - na estereotipada figura da coquete francesa - que cozinha muito bem. Como se não bastasse, a dona do bistrô local é linda (Marion Cotillard). O único obstáculo para Max é uma jovem americana (Mitchell Mullen) que diz ser a verdadeira proprietária dos vinhedos. Mas sua presença não chega a gerar conflito e engrossar este roteiro, leve como um fim de tarde saboreando um beajoulais. Ridley Scoot e Russell Crowe parecem ter se divertido muito, mas fica aqui a sugestão de que, nas próximas férias, eles bolem uma história que valha a pena ser filmada.



# Um Bom Ano (A Good Year)

USA, 2006

Direção: Ridley Scott

Roteiro: Marc Klein, baseado no romance de Peter Mayle

Produção: Mark Allan

Fotografia: Philippe Le Sourd

Montagem: Dody Dorn

Música: Marc Streitenfeld

Elenco : Russell Crowe, Albert Finney, Abbie Cornish, Marion Cotillard, Valeria Bruni-Tedeschi

Duração: 118min

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