Críticas


ROCKETMAN

De: DEXTER FLETCHER
Com: TARON EGERTON, JAMIE BELL, RICHARD MADDEN, BRYCE DALLAS HOWARD
10.06.2019
Por Marcelo Janot
Empolgante musicalmente, o filme cai em contradição com um final moralista

“Rocketman” e “Bohemian Rhapsody” são filmes sobre astros do rock inglês que misturam a genialidade musical com biografias conturbadas nos quesitos sexo, drogas e relações familiares. “Rocketman” já estava na fase de pré-produção quando seu diretor Dexter Fletcher foi convocado para assumir a direção de “Bohemian Rhapsody”, após Bryan Singer ter sido demitido com 80% do filme concluído.

Ou seja, a comparação entre ambos acaba se tornando inevitável. Depois de o filme sobre Freddie Mercury e o Queen ter se tornado um fenômeno mundial, a pergunta que muitos fazem é se “Rocketman” é pior ou melhor. O que se pode assegurar é que, se guardam semelhanças, ao mesmo tempo são filmes diferentes. Se “Bohemian Rhapsody” foi criticado por alterar fatos biográficos e sua cronologia, “Rocketman” procura se assumir desde o início como uma biografia mais livre, em que as canções ditam a narrativa através de números musicais coreografados e fantasiosos, reproduzindo a estética extravagante que Elton criou para sua persona artística.

A música é extraordinária, o ator Taron Egerton canta muito bem e os números são bem produzidos e contextualizados na trama (ainda bem que dessa vez nas cópias brasileiras legendaram as canções). O filme cresce bastante nesses momentos. A estética kitsch proporciona cenas adoráveis e são poucos os casos em que resvala no mau gosto (como a constrangedora cena de “Sorry seems to be the hardest world” no restaurante). Para fãs antigos e novos, os bastidores do processo criativo de canções antológicas é motivo de deleite, com destaque para os momentos em que a dupla Elton John-Bernie Taupin está em cena maquinando um novo hit.

Só é uma pena que a narrativa acabe privilegiando os aspectos mais dramáticos da biografia de Elton. E é aí que reside seu ponto mais fraco, a começar pela opção de estruturar a narrativa em flashback, em torno do depoimento de Elton num grupo de recuperação de viciados anônimos. Um recurso que soa preguiçoso e um tanto esquemático. O Elton que vemos ali já é um astro, mas o sucesso e o dinheiro de nada valem frente a todo o sofrimento por conta do fracasso nas relações familiares e amorosas que colecionou. As passagens dramáticas soam redundantes e às vezes muito mal exploradas pelo roteiro, como o casamento fracassado com a engenheira de som Renate.

(AVISO DE SPOILER)

O pior mesmo, no entanto, é a decisão de terminar o filme no momento em que ele se sente curado, volta a brilhar com “I’m still standing” e, livre do álcool e das drogas, reencontra a felicidade que vai perdurar por mais três décadas, como informam as cartelas finais. Mas será que nessas décadas que se passaram depois da cura ele não produziu nada de artisticamente relevante que merecesse estar no filme? Ao fazer a linha de corte em 1983 e ignorar o que veio depois, “Rocketman” dá a entender que o Elton John genial dos seus primeiros e loucos anos de carreira deixou de existir, uma “cura” que soa moralista e um tanto contraditória dentro de uma obra que tenta se revestir de uma capa libertária e transgressora.







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Outros comentários
    4900
  • Stella
    10.06.2019 às 18:27

    Porém, críticas dali e daqui, ele foi condecorado pela Rainha com o título de SIR !!!!!