Críticas


ILUSIONISTA, O

De: NEIL BURGER
Com: EDWARD NORTON, PAUL GIAMATTI, JESSICA BIEL
11.12.2006
Por Nelson Hoineff
FEIRA DE MOVIMENTOS ILUSÓRIOS

Representar, dizia Chaplin, é se amar representando. Edward Norton visivelmente não se ama no papel de Eisenheim, o emblemático ilusionista do conto de Steven Millhauser que vaga pelo mundo durante 15 anos após fracassar na tentativa de fazer sua amada e a si mesmo desaparecerem ante o perigo iminente. Para o personagem, esse é um universo transbordante de dúvidas e mágoas; para seu intérprete, é um universo habitado pelo vácuo de emoções.



São 15 anos que, para Norton, é como se não tivessem existido, mas que são justamente a argamassa com a qual se contrói o personagem que ele vai ser chamado a viver. Pode-se viver alguém que não se conhece, que não se ama ou pelo menos se odeia? Esse é um conflito que não deixa a O Ilusionista a alternativa de ser tocado pela tempestade de meias-verdades, incertezas e ambiguidades que o diretor Neil Burger tenta construir. No permanente duelo que se trava entre o que tenta ser e o que Norton permite que seja, o filme não tem chances.



Mas as suas ruínas ali estão, ostentando grandiosidade e indicando, como cabem às ruínas, onde a obra se perdeu. A fotografia (em grande parte construida em sépia) de Dick Pope que recria não apenas o charme e a sedução do fin-de-siècle vienense – um cenário habitado por revolucionários e mágicos a seu modo como Schoenberg e Freud - como também o seu mistério. A música de Philip Glass que, se às vezes é banalizada pelo número excessivo de filmes ruins a que o grande compositor empresta seu trabalho, aqui permanece atenta ao diálogo que a obra tenta estabelecer com seu público. E a própria direção de Neil Burger, de quem não cheguei a ver seu único trabalho anteriormente creditado, Entrevista com o Assassino, pseudo-documentário aparentemente na esteira de A Bruxa de Blair, que fez com base no assassinato de JFK.



O que Burger extrai do conto de Millhauser é um tipo de mágica que não se exibe nos palcos. Há uma razão para que Eisenheim esteja ali – e não é apenas para entreter as platéias. Eisenheim, alias Edward Abramovitz, faz aparecerem árvores e desafia as leis da natureza, mas acende uma lanterna sobre o anti-semitismo latente na terra dos sonhos e desde cedo percebe que é a si mesmo que tem que reinventar.



Não consegue, mas o destino quer que ele tenha uma segunda chance. É dessa segunda chance de que fala o filme. Não são coelhos, mas o destino, que Eisenheim tira da cartola, sob as barbas do inspetor de polícia (Paul Giamatti) e do Príncipe Leopoldo (Rufus Sewell), mas principalmente sob a sombra do mundo que Mahler estava ajudando a construir. É isso o que ele nos diz sobre a sua capacidade de iludir, porque somos bem maiores e mais importantes do que a natureza.



Abramovitz nunca se esquece disso. Norton jamais desconfiou. Temos então que ir ao ilusionista que não está em O Ilusionista, buscar a sua essência escamoteada, para descobrir o filme que vai muito além de uma feira banal de movimentos ilusórios.





O ILUSIONISTA (THE ILLUSIONIST)

EUA, 2006

Direção: NEIL BURGER

Roteiro: NEIL BURGER, baseado no conto de Steven Millahuser

Fotografia: DICK POPE

Música: PHILLIP GLASS

Elenco: EDWARD NORTON, PAUL GIAMATTI, JESSICA BIEL, RUFUS SEWELL

Duração: 109 minutos

Site oficial: clique aqui

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