Críticas


MAYA

De: MIA HANSEN-LOVE
Com: ROMAN KOLINKA, AARSHI BANERJEE, ALEX DESCAS
27.06.2019
Por Luiz Fernando Gallego
A narrativa fluente desperta interesse, embora o desfecho um tanto vago possa incomodar.

Embora o mais recente filme de Mia Hansen-Love leve o nome da personagem Maya (interpretada pela estreante Aarshi Banerjee) , o centro do enredo está em Gabriel (Roman Kolinka, em seu terceiro filme com a diretora), um repórter de situações de guerra que esteve na condição de refém do ISIS em 2012. O filme começa quando ele já foi libertado e retorna a Paris com outro refém livre (Alex Descas). Um terceiro jornalista permanece preso, o que é uma das fontes de mal-estar para Gabriel. Ele traz uma expressão de desconforto contido, mas rejeita uma indicação de apoio psicoterápico. Nada parece modificar sua atitude: nem a boa recepção dos amigos ou de sua ex-namorada – que canta lindamente uma conhecida canção de Schubert (“Ständchen” D.957) que será escutada em arranjo sem voz mais algumas vezes ao longo do filme.

Gabriel diz que sua “terapia” será ir para a Índia. Um corte do carro que ele dirige em Paris para o banco de trás de um carro onde o vemos, já na Índia, ainda não explica o que, aos poucos, os diálogos esclarecem: filho de um cônsul, ele já morou lá quando criança e tem um padrinho em Goa que dirige um hotel que não vai bem das pernas. Uma jovem, filha deste homem, é Maya: de início ela aparenta uma adolescente bem mais jovem do que os 30 anos de Gabriel. Já morou, entretanto, em Londres, mas prefere ficar em Goa. Mais adiante, a atriz surgirá com uma expressão bem madura, parecendo bem mais velha (quando tudo se passa em menos de um ano).

A relação entre Maya e Gabriel é o que mais se destaca em todo o filme, mas há outros encontros pontuais que ele vai travar, além de uma passagem sobre questões imobiliárias na região que podem levar a atos de violência. Bastante significativoé o encontro dele com sua mãe, de quem vive afastado. Ela trabalha numa ONG em Mumbai e cuida de crianças abandonadas pelas ruas. De modo muito franco ela questiona o trabalho do filho, já que pode acabar resultando em sequestros; e que se gaste dinheiro para liberar os reféns, alimentando os sequestros, enquanto não há ajuda financeira para meninos de rua, ela lamenta. Não há ponto de contato entre eles. Salvo engano, a única tomada em que Gabriel não está presente é quando vemos, rapidamente, sua mãe sozinha, com lágrimas, no carro depois do encontro/desencontro dos dois. Mas nada “eleva o tom” da narrativa fluente da diretora que desperta interesse pela não-explicitação do que se passa no íntimo de Gabriel. Este interesse pode levar a um certo desapontamento na cena final, um tanto elíptica e vaga.

Maya não repete os acertos do belíssimo filme anterior da cineasta, O que está por vir (2016) que ainda teve o mérito de dar a Isabelle Huppert um papel diferente dos de mulheres frias e assustadoras que a atriz vem repetindo demais. Desta vez, Roman Kolinka (que teve um segundo papel no outro filme) tem mais oportunidade e ótima interação com a estreante que faz 'Maya'.

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