Críticas


DIVINO AMOR

De: GABRIEL MASCARO
Com: DIRA PAES, JULIO MACHADO, EMILIO DE MELLO
27.06.2019
Por Luiz Fernando Gallego
O contexto é interessante, mas o desenvolvimento não é tão bem sucedido.

O mais recente filme de Gabriel Mascaro parte de um contexto interessante: num futuro próximo, a grande festa popular brasileira não é mais o carnaval, mas a “Festa do Divino Amor” - uma óbvia alusão ao fortalecimento de uma cultura religiosa que vem crescendo muito em diversos setores da nossa sociedade, inclusive pretendendo interferências indevidas no princípio laico da nação. Há um aspecto de distopia no cenário em que a história transcorre, incluindo certo controle sobre o cidadão: em cada lugar que se entra há uma identificação de dados pessoais por sobre a porta pela qual se passa.

Outro tipo de ingerência se dá em níveis individuais: Joana, a personagem de Dira Paes, trabalha em cartório; sempre que um casal dá entrada num pedido de divórcio ela tenta convencer os cônjuges a ficarem juntos, induzindo-os a frequentarem a “igreja do divino amor”. Ela e seu marido (Julio Machado), que trabalha com coroas de flores para cerimônias fúnebres, participam desta igreja, cujas práticas de reaproximação dos casais são bastante heterodoxas, para dizer bem pouco.

O enredo envereda para uma ocorrência específica na vida de Joana que colocará em conflito o discurso religioso habitual das religiões cristãs instituídas sobre o poder da Fé, por um lado, com um evento inusitado, por outro, inexplicável pela lógica. Nesta hora, o pastor de uma espécie de atendimento religioso estereotipado tipo fast food não acredita que algo místico possa ter ocorrido com aquela crente.

Infelizmente, esta parte do filme é bem menos interessante, repetindo uma situação já explorada pelo cinema em outros filmes, de Rossellini a Godard, sem a mesma originalidade ou pegada, ficando no meio termo entre a crítica ao fundamentalismo religioso e a possibilidade de coisas maravilhosas acontecerem (ainda que para colocar em xeque a verdadeira opinião dos "pastores" sobre o poder da Fé).

A narrativa de voz em off infantil é bastante prejudicial ao filme: muitas vezes pouco se entende e o tempo todo pode levantar a hipótese de se tratar de um retrato da situação infantilizada da religiosidade fundamentalista; mas tem uma explicação na última cena ligada à situação à qual aludimos no parágrafo anterior (Não comentamos para evitar spoiler, ainda que seja algo previsível e bastante decepcionante face à pretensão frustrada do filme).



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