Críticas


CASAL IMPROVÁVEL

De: JONATHAN LEVINE
Com: CHARLIZE THERON, SETH ROGEN, JUNE DIANE RAPHAEL
27.06.2019
Por Luiz Fernando Gallego
A "princesa" virou linda e poderosa Secretária de Estado. E o "plebeu" passou de jornalista galã a blogueiro feio e desempregado para fazer rir

No cinema de 1953 uma princesa não podia ficar com um plebeu jornalista: Audrey Hepburn tinha que se curvar aos compromissos como membro da realeza. Mesmo que o plebeu fosse Gregory Peck. Em 1999 as coisas também eram difíceis para uma superestrela de cinema como Julia Roberts e um mero livreiro. Mesmo que ele fosse Hugh Grant. Até o discurso final da mulher poderosa lembrava o da princesa de décadas anteriores, ainda que com outro desfecho.

O Casal Improvável de 2019 envolve uma mulher ainda mais poderosa do que suas antecessoras hollywoodianas. Ela tem o cargo de Secretária de Estado dos Estados Unidos, é linda como Charlize Theron, e ele é... bem, ele é Seth Rogen - fazendo o feioso, mal vestido e looser habitual, no caso, ainda que também jornalista, ou melhor, blogueiro de textos furiosos nada “políticos”. Aliás, bem políticos - sem aspas!

O mesmo plot de sessenta e seis anos atrás é turbinado com virulência, ousadia e possibilidades escatológicas impensáveis para a dupla original de A Princesa e o Plebeu ou mesmo de Notting Hill. Mais do que de William Wyler, que dirigiu o lubitschiano "Roman Holiday" de '53, o filme atual poderia ser coisa de um Frank Capra, só que desbocado à enésima potência e sem a ingenuidade do personagem que James Stewart viveu em Mr. Smith goes to Washington (A Mulher faz o homem). (E haverá alguma alusão no fato de um personagem de Casal Improvável ser homônimo do antigo ator, ainda que o personagem seja diverso do tal “Mr. Smith” de 1939?)

Talvez haja algo de um Lubitsch muito século XXI - ou, mais ainda, dos despudores de Billy Wilder nesta versão atual de uma “princesa” (do Partido Democrata) e seu “sapo”, ainda mais radical do que ela em valores contrários aos do Partido Republicano. O Presidente, neste filme, é um ex-ator que fazia o papel de Presidente na TV e chegou de fato à Casa Branca, não passando de uma figura idiota, ainda que nem tão bizarro como o atual ocupante da Casa Branca da vida real. Pelo menos, o do filme pretende voltar ao Cinema. Cinema mesmo, não à TV...

O diretor Jonathan Levine já filmou outros casais bem improváveis como em Meu namorado é um Zumbi, de 2013 (e era mesmo), e o interessante 50% (de 2011). Na verdade, ele não tem (nem parece querer ter) a elegância dos grandes diretores do passado citados. Afinal, mesmo quando ousava muito para a época, Billy Wilder era um cineasta mais fluente e refinado do que Levine. Mas este parece estar fazendo o que quer: fazer rir com o improvável romance e com situações políticas, abordando tabus como o hábito inconfesso da masturbação masculina e como seria a verdadeira vida sexual de políticos. Ou mulheres políticas. A mulher na presidência americana é um bom tema que rola de modo um tanto fantasioso - mas já é melhor do que não abordá-lo. O elenco é fundamental neste tipo de filme e o casal central está como o diabo gosta e com bons coadjuvantes, especialmente O’Shea Jackson Jr. e June Diane Raphael.

No todo, os 125 minutos de duração até que pareceram menores, embora haja duas pequenas passagens que quase parecem “barrigas” - sem que atrapalhem a diversão.

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