Críticas


BOAS INTENÇÕES

De: GILLES LEGRAND
Com: AGNÈS JAOUI, ALBAN IVANOV, TIM SEYFI
06.07.2019
Por Luiz Fernando Gallego
A intenção é fazer rir com a ideia "casa de ferreiro, espeto de pau", mas o deboche é caricato e grosseiro.

A "boa intenção" deste filme parece ser a de provocar o riso fácil - e isso é conseguido inicialmente. Entretanto, a caricatura de uma personagem muito engajada em causas sociais (interpretada de modo um tanto ridículo por Agnès Jaoui) que, por outro lado, vai se revelando muito pouco atenta a seus próprios filhos e marido, acaba por soar como um deboche pouco feliz da ideia de que "em casa de ferreiro acaba-se usando espeto de madeira". O mesmo deboche atinge os personagens dos imigrantes aos quais ela tanto se dedica: surgem como estereótipos grosseiros; estereótipos que, de passagem - e contraditoriamente - o filme parece querer também criticar. Os clichês podem ofender espectadores mais susceptíveis como no caso de um jovem brasileiro (embora o ator seja português) muito limitado intelectualmente com sua eterna camisa amarela da seleção; mas é mais grave ainda no caso da búlgara com atitudes de "piranha" ou do cigano que é ladrão sem culpa alguma - para ficar em dois exemplos bem desagradáveis. Poucos momentos respeitosos surgem quando um homem mais idoso e de pele negra, um africano, compreende de modo sensível a situação expressa no clássico do teatro francês “Cyrano de Bergerac” (peça que é tema de outro filme em cartaz).

As relações familiares da personagem central resvalam num certo clima melodramático com “explicações” de uma psicologia rasa ao mostrar a mãe da personagem ativista como uma mulher sempre muito distante e gélida, para não falar no marido, um ex-imigrante que teria sido ajudado por ela no passado quando, por fim, teriam se apaixonado. Mas agora é como se ele não aprovasse a dedicação da mulher a outros emigrantes tão desvalidos como ele anteriormente...

Não se trata de questionar aspectos “politicamente incorretos” de um roteiro que busca fazer rir: o filme não seria tão incômodo se funcionasse bem e o humor fosse mais inteligente. Lamentavelmente, não é o caso.

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Outros comentários
    4912
  • Sidney
    15.07.2019 às 06:55

    "Homem mais idoso e de pele negra"? Haja eufemismo para parecer politicamente correto!
    • 4913
    • Luiz Fernando Gallego
      15.07.2019 às 08:12

      Se o leitor pudesse ter entendido a intenção do texto em criticar o uso de estereótipos por parte do filme talvez também entendesse que não se trata de "parecer" qualquer coisa, mas de SER: ser respeitoso para com traços étnicos e culturais, ao contrário do que o filme faz ao explorá-los de modo deselegante e grosseiro. Talvez também pudesse entender que não se trata de "eufemismo", mas de oferecer uma descrição do personagem para quem não viu o filme (se o leitor viu, poderá usar os termos que quiser para descrever, talvez diferentes dos que foram utilizados), até porque esta é uma das poucas horas em que o filme, paradoxalmente, se mostra respeitoso, ainda que fique a impressão da tática de "assoprar" para depois continuar a morder imbecilmente com a intenção de fazer rir apelando para preconceitos.