A "boa intenção" deste filme parece ser a de provocar o riso fácil - e isso é conseguido inicialmente. Entretanto, a caricatura de uma personagem muito engajada em causas sociais (interpretada de modo um tanto ridículo por Agnès Jaoui) que, por outro lado, vai se revelando muito pouco atenta a seus próprios filhos e marido, acaba por soar como um deboche pouco feliz da ideia de que "em casa de ferreiro acaba-se usando espeto de madeira". O mesmo deboche atinge os personagens dos imigrantes aos quais ela tanto se dedica: surgem como estereótipos grosseiros; estereótipos que, de passagem - e contraditoriamente - o filme parece querer também criticar. Os clichês podem ofender espectadores mais susceptíveis como no caso de um jovem brasileiro (embora o ator seja português) muito limitado intelectualmente com sua eterna camisa amarela da seleção; mas é mais grave ainda no caso da búlgara com atitudes de "piranha" ou do cigano que é ladrão sem culpa alguma - para ficar em dois exemplos bem desagradáveis. Poucos momentos respeitosos surgem quando um homem mais idoso e de pele negra, um africano, compreende de modo sensível a situação expressa no clássico do teatro francês “Cyrano de Bergerac” (peça que é tema de outro filme em cartaz).
As relações familiares da personagem central resvalam num certo clima melodramático com “explicações” de uma psicologia rasa ao mostrar a mãe da personagem ativista como uma mulher sempre muito distante e gélida, para não falar no marido, um ex-imigrante que teria sido ajudado por ela no passado quando, por fim, teriam se apaixonado. Mas agora é como se ele não aprovasse a dedicação da mulher a outros emigrantes tão desvalidos como ele anteriormente...
Não se trata de questionar aspectos “politicamente incorretos” de um roteiro que busca fazer rir: o filme não seria tão incômodo se funcionasse bem e o humor fosse mais inteligente. Lamentavelmente, não é o caso.