Críticas


PLANETA BRANCO, O

De: THIERRY RAGOBERT e THIERRY PIANTANIDA
05.01.2007
Por Carlos Alberto Mattos
A SUPERFICIALIDADE É BRANCA

Os franceses desenvolveram uma escola importante e uma perícia admirável na realização de docs naturais (o gênero nature-animalier). Mas, ao mesmo tempo, têm o péssimo hábito de sabotar a própria qualidade com um tratamento artístico medíocre e uma embalagem de consumo ligeiro. O Planeta Branco co-produção franco-canadense, tem um pouco de Microcosmos, pitadas de Migração Alada e resquícios de A Marcha dos Pingüins. No entanto, ao contrário de todos eles, não alcança a unidade e a originalidade que se espera de um bom documentário.



Isto não quer dizer que o filme de Thierry Piantanida e Thierry Ragobert – ambos ex-colaboradores de Jacques Cousteau – não tenha seus atrativos. Beleza é o que não falta aos cenários dos confins do Ártico, do Quebec à Groenlândia: mares glaciais, auroras boreais, geleiras colossais. Tampouco falta graça a bestas como as focas de capuz inflável, os narvais com suas agulhas enormes à guisa de nariz, ou os bebês ursos enroscados em suas almofadadas mamães. Os Thierry captam momentos impactantes e os editam com propriedade dramática: o parto de uma ursa em sua toca; a ronda feroz de um polvo gigante em busca de alimento; o duelo craniano de dois bois-almiscarados; a busca e rapto de um ovo de airo por uma raposinha solerte. De muitos daqueles animais eu sequer já tinha ouvido falar, que dirá vê-los em todo o seu esplendor.



Particularmente espantosa é a migração das renas selvagens (ou caribus), quando centenas de milhares de espécimes são seguidos pela equipe por terra, mar e ar. Desde o clássico Grass, de 1925, esses deslocamentos formidáveis de homens ou animais sempre foram objeto privilegiado da observação etnográfica no cinema. Assim como os pingüins, os caribus redefinem seu território de acordo com as estações, assim contribuindo para a enorme instabilidade da geografia ártica.



O que é frustrante, em O Planeta Branco, é a maneira episódica com que todo esse panorama se apresenta. Uma corrida aqui, um enfrentamento ali, uma cena de ternura acolá – e nada difere muito de tantos programas de TV do gênero “mundo animal”, só que em tela grande e som digital. Aliás, nem mesmo a faixa sonora sai ilesa do projeto de “embelezamento” da vida no gelo. A trilha musical de Bruno Coulais (o mesmo de Microcosmos e Migração Alada, além de – argh! – A Voz do Coração/Les Choristes) é um típico pastiche new age que ecoa o pior da música “progressista” francesa. Os vocalises inuit de Elipse Isaac e as sugestões de ruídos animais são de revoltar o estômago.



O filme é narrado, sem brilho particular nem ênfase pessoal, pelo explorador Jean-Louis Etienne, especialista em regiões polares. Cabe a sua voz, já nos minutos finais, fazer o alerta ecológico pelo qual o filme se alinha, junto a Uma Verdade Inconveniente, nas fileiras contra o aquecimento global. Não é um sermão como o de Al Gore, mas somente uma saideira, como se o filme pedisse desculpa para interromper o espetáculo com uma mensagem aborrecida. Aliás, para não ficar tão aborrecida assim, ela é atribuída à Mamãe-Ursa. Bem, pelo menos aqui ninguém dublou a fera dizendo: “Atenção, humanos, não percam o Norte!”.





O PLANETA BRANCO (LA PLANÈTE BLANCHE)

França/Canadá, 2006

Direção:
THIERRY RAGOBERT e THIERRY PIANTANIDA

Roteiro: STÉPHANE MILLIERE, THIERRY PIANTANIDA

Fotografia: JÉRÔME BOUVIER, FRANÇOIS DE RIBEROLLES, MARTIN LECLERC, THIERRY MACHADO, DAVID REICHERT

Montagem: CATHERINE MABILAT, THIERRY RAGOBERT, NADINE VERDIER

Música: BRUNO COULAIS

Duração: 86 minutos

Site oficial: clique aqui

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