Críticas


BORAT

De: LARRY CHARLES
Com: SACHA BARON COHEN, KEN DAVITIAN, PAMELA ANDERSON
23.02.2007
Por Carlos Alberto Mattos
PÂNICO NA TV

(Texto publicado originalmente no Docblog do autor)



Romenos, cazaquistaneses, estadunidenses, judeus, muçulmanos, evangélicos, negros, gays, feministas, prostitutas, atores pornô, professores de etiqueta – quase todas as categorias de seres humanos podem achar um motivo – e algumas já o fizeram – para processar Borat, o segundo melhor repórter do glorioso país Cazaquistão em sua viagem à América. Além, é claro, de repórteres e documentaristas.



Em que pese a ressalva satírica da origem do personagem, poucas vezes o ofício foi tão esculachado.



O termo documentarista, aplicado a Borat, lembra que nos países anglo-saxônicos essa atividade se confunde com a do repórter de TV. Como tal, Borat está na pele de um profissional costumeiramente enxovalhado pelo cinema. Uma espécie de rixa surda entre as duas mídias faz surgir com freqüência a figura do repórter sensacionalista, oportunista ou desconectado da realidade à sua volta. Vejam o caso da personagem de Jennifer Connely em Pecados Íntimos, uma sisuda documentarista da TV pública que entrevista crianças sobre a guerra do Iraque mas não percebe que seu casamento está a ponto de desmoronar.



Borat é grosso e ingênuo ao mesmo tempo. Seu deslumbramento com os “U.S and A.” torna-se o instrumento de uma sátira demolidora da pior face do país. Ao se identificar com os preconceitos, a estupidez e a superficialidade do que encontra, ele inverte os propósitos da viagem: em vez de aprender, revela. Em lugar de aperfeiçoar-se, reforça o que tem de mais grotesco. A esperteza dessa operação cômica compensa o que o filme tem de exagero, escatologia e humor rebarbativo.



Para quem vai assisti-lo pela perspectiva do documentário, vale a pena tentar discernir o espontâneo do que é encenado. A ligeireza da produção, com toda pinta de coisa improvisada, torna mais difícil essa tarefa. Já no início, quando o inefável Borat Sagdiyev chega a Nova York e sai beijando as pessoas na rua, é bem visível o dispositivo da “pegadinha” televisiva com os transeuntes. Algumas interações do repórter com profissionais diversos dão a impressão de conversas reais, que logo descambam para o modelo “Pânico na TV”. Algumas celebridades, como Pamela Anderson, toparam participar do jogo de Sacha Baron Cohen. Já os universitários que contracenam com ele no furgão entraram com um processo acusando-o de induzi-los a piadas racistas e sexistas para um pqueno filme que só seria exibido fora dos EUA. Com essa lógica, não admira que perderam a ação.



Ofensas e burlas à parte, Borat é mais bizarro, irreverente e atordoante que propriamente engraçado. Não é um pseudo doc, nem um faking of, já que o aparato e a situação de filmagem em nenhum momento são levados em consideração. Trata-se mais de uma rude brincadeira com os clichês do telejornalismo, de certos mitos dos EUA e de um terceiro mundo que, passada a guerra fria, virou reserva de humor politicamente incorreto. Wawaweewa! Very nice!





BORAT – O SEGUNDO MELHOR REPÓRTER DO GLORIOSO PAÍS CAZAQUISTÃO VIAJA À AMÉRICA (BORAT: CULTURAL LEARNINGS OF AMERICA FOR MAKE BENEFIT GLORIOUS NATION OF KAZAKHSTAN)

EUA, 2006

Direção: LARRY CHARLES

Roteiro: SACHA BARON COHEN, ANTHONY HINES, PETER BAYNHAM, DAN MAZER

Fotografia: LUKE GEISSBUHLER, ANTHONY HARDWICK

Montagem: CRAIG ALPERT, PETER TESCHNER, JAMES THOMAS

Música original: ERRAN BARON COHEN

Elenco: SACHA BARON COHEN, KEN DAVITIAN, PAMELA ANDERSON

Duração: 84 minutos

Página oficial de Borat: clique aqui

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