O Super-Homem capaz de nos restituir a glória e como um Deus mudar o curso da História, cantado por Gilberto Gil e presente no imaginário de tantas gerações, nunca existiu para quem primeiro o imortalizou: o ator George Reeves, que interpretou o herói na TV, entre 1951 e 1958. A identificação com o personagem foi tamanha que frustrou o sonho de se tornar um grande astro de cinema, e Reeves morreu com um tiro na cabeça aos 45 anos, supostamente suicidando-se.
O que mais atrai a curiosidade em Hollywoodland é o fato de o filme trazer à tona a biografia de Reeves e explorar os dilemas e contradições que envolvem o homem frente a um personagem de tal magnitude. O que vemos é que a responsabilidade de personificar os ideais americanos de bondade, igualdade e justiça não pesou tanto na consciência de um sujeito como ele, capaz de qualquer coisa para alcançar a fama no cinema. Depois de uma pequena participação em ...E O Vento Levou, Reeves acreditava que viver o Super-Homem na TV serviria como trampolim para o estrelato na tela grande, mas o episódio de sua frustrada aparição em A Um Passo da Eternidade viria mostrar que a fantasia de herói era, na verdade, uma camisa de força impossível de ser arrancada.
O ponto de partida de Hollywoodland é uma fictícia reabertura da investigação da morte do ator através do detetive Louis Simo (Adrien Brody), que acredita que Reeves (Ben Affleck) tenha sido morto pela noiva ou pelo marido de sua ex-amante, um chefão da MGM. Sob uma elegante atmosfera noir, o diretor Allen Coultard faz uso dos flashbacks para mostrar a obsessão de Reeves e Simo pela fama numa Hollywood em mutação no final dos anos 50. A idéia é boa, os atores estão bem (especialmente o “inchado” Ben Affleck, premiado em Veneza pelo papel), a direção de arte é competentíssima e a eficiente trilha sonora é do compositor brasileiro Marcelo Zarvos (ex-companheiro de Supla no grupo Tokio!).
O filme chega a lembrar Dália Negra em diversos aspectos (sem o virtuosismo de Brian de Palma), mas a insistência no drama familiar de Simo atrapalha o resultado. A relação difícil com o filho pequeno, o romance com a assistente, além de uma investigação paralela de um suposto caso de adultério são mal desenvolvidas pelo roteiro e não se conectam à história de Reeves apropriadamente. Se George Reeves queria se livrar do fardo do Super-Homem, aqui é ele quem empresta força ao filme.
# HOLLYWOODLAND – BASTIDORES DA FAMA (HOLLYWOODLAND)
EUA, 2006
Direção: ALLEN COULTARD
Roteiro: PAUL BERNBAUM
Produção: GLEN WILLIAMSON
Fotografia: JONATHAN FREEMAN
Edição: MICHAEL BERENBAUM
Música: MARCELO ZARVOS
Elenco: BEN AFFLECK, ADRIEN BRODY, DIANE LANE, BOB HOSKINS, LOIS SMITH, ROBIN TUNNEY
Duração: 126 min.
