Críticas


A REVOLUÇÃO EM PARIS

De: PIERRE SCHOELLER
Com: GASPARD ULLIEL, LAURENT LAFITTE, OLIVIER GOURMET, DENIS LAVANT, LOUIS GARREL, ADÈLE HAENEL
28.11.2019
Por Luiz Fernando Gallego
Uma espécie de recriação de episódios históricos que não parece ir além da reconstituição cenográfica e pictórica.

O título original não mente. Significa “um povo e seu rei”. O recorte do roteiro (de autoria do diretor) é exatamente o que o título original promete: num breve prólogo, Luís XVI encena o ritual de lava-pés da Quinta-feira Santa com meninos pobres de Paris. É aí que uma das crianças manifesta (fantasia?) que em breve terá tamancos. Ter tamancos para calçar, ter pão para comer, necessidades elementares não satisfeitas para o povo enquanto em Versalhes o fausto e desperdício dominam.

Não há dados político-históricos do que levou à queda da Bastilha no famoso “14 de julho” além da desigualdade abissal entre a nobreza e a população. Assim como não há menção ao que se seguiu à condenação do Rei, “o terror”. O foco é o período entre 1789 e 1793 - quando Luís foi guilhotinado.

As cenas que mostram a aristocracia ou a Assembleia Nacional com seus representantes (Marat, Robespieerre, Danton, Saint Juste etc) são sempre alternadas com as de um grupo de populares (um artesão que constrói vidros, chamado apenas de “o tio”, uma jovem de nome Françoise e um rapaz de nome Basile, entre outros). Há mesmo uma montagem paralela entre cenas da Assembleia e o aprendizado de Basile com o “tio” para que se adestre em soprar o vidro em alta temperatura. Parece haver alguma intenção nas frases que o “tio” usa para explicar como o jovem deve fazer, repetindo termos como “paciência”, “lentamente” – em contraste com o que (talvez) seja um retrato da precipitação de membros da Assembleia em condenar o rei à morte.

Surpreende por ser do mesmo diretor de O Exercício do Poder (2011), uma ambiciosa realização de forte conteúdo político. Pois A Revolução em Paris (título nacional) deixa a política muito restrita, por exemplo, à reprodução dos discursos dos deputados a favor ou contra a morte do Rei, numa espécie de recriação de episódios históricos, sem que fique clara uma posição pessoal do cineasta e roteirista sobre o significado dos fatos ou o pano de fundo por trás desses mesmos fatos.

A recriação de ambição documental pode ser apreciada, assim como o talento já conhecido de vários atores, mas no momento atual em que minisséries são apreciadas pelo público e crítica, não seria o caso de uma realização mais ampla em capítulos no lugar de um filme de 130 minutos que não parece ir além da reconstituição cenográfica e pictórica?

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