Críticas


VIOLINO, O

De: FRANCISCO VARGAS QUEVEDO
Com: DON ANGEL TAVIRA, GERARDO TARACENA, DAGOBERTO GAMA
31.03.2007
Por Carlos Alberto Mattos
A MÚSICA NUNCA TERMINA

O título do primeiro longa do talentoso mexicano Francisco Vargas Quevedo direciona nossa atenção para o violino do velho lavrador Plutarco Hidalgo. A princípio mero instrumento de sobrevivência, ele vai adquirindo novas conotações dramáticas e simbólicas à medida que a história se desenvolve. Há ressonâncias míticas em nomes como Plutarco, Zenon e Sirenio, assim como no papel da música enquanto elemento de sedução, humanização e luta.



Não estamos em época nem lugar preciso, mas no “país” do cinema social latino-americano, cujas imagens em belíssimo preto-e-branco evocam ora a tradição mexicana do fotógrafo Gabriel Figueroa, ora o tom épico de Eisenstein em Que Viva México!, ora ainda o neo-realismo italiano. Uma aldeia se vê ocupada por militares de um governo cruel, e alguns moradores colaboram com a guerrilha igualmente militarizada. O papel que o idoso violinista desempenha nessa equação surpreende o espectador a cada passo, culminando num desfecho que define a resistência popular como um mito em constante renovação.



O encanto de O Violino vem em parte da sua pegada ligeiramente anacrônica no cinema contemporâneo. Seu ritmo compassado reflete a vida no campo e as cautelas da clandestinidade. A brutalidade da cena de abertura não se estende ao resto do filme, mas apenas fornece a perspectiva de violência para o suspense que virá, sobretudo a partir da interação de Don Plutarco com um oficial apaixonado por música.



Virtude central é a qualidade do roteiro e das atuações, especialmente a composição rústica de Don Ángel Tavira, um violinista e não-ator que inspirou seu personagem e ganhou o prêmio de interpretação da mostra Um Certo Olhar em Cannes. A caracterização das três gerações é outro acerto do roteiro, já que cada uma participa do esforço de resistência à sua maneira: Genaro, o homem pleno, com a ação direta; Don Plutarco lançando mão de sua aparência frágil; e o menino como observador admirado, cujo olhar a direção transforma em eixo da montagem de vários diálogos.



Francisco Vargas Quevedo é uma revelação com sua segurança no posicionamento da câmera (geralmente transportada no ombro do fotógrafo) e o perfeito domínio de uma linguagem clássica. A seqüência em que Don Plutarco relata ao neto a gênese da inveja e da ambição humanas é um desses momentos de "cinema de poesia" fadados a ficar na memória.





O VIOLINO (EL VIOLIN)

México, 2005

Direção e roteiro:
FRANCISCO VARGAS QUEVEDO

Fotografia: MARTÍN BOEGE

Montagem: FRANCISCO VARGAS QUEVEDO, RICARDO GRAFIAS

Direção de arte: CLAUDIO CONTRERAS

Som: ISABEL MUÑOZ COTA

Música: ARMANDO ROSAS, CUAUHTÉMOC TAVIRA

Elenco: DON ANGEL TAVIRA, GERARDO TARACENA, DAGOBERTO GAMA, MARIO GARIBALDI

Duração: 98 minutos

Site oficial: clique aqui

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