Críticas


BEIJO A MAIS, UM

De: TONY GOLDWYN
Com: ZACH BRAFF, JACINDA BARRETT, RACHEL BILSON
06.04.2007
Por Carlos Alberto Mattos
COMPANHIA INDESEJÁVEL

A primeira falha desse projeto foi não prestarem atenção no título do filme italiano de 2001: O Último Beijo. Era o último, supõe-se que terminaria ali. Mas a indústria de Hollywood não resistiu à tentação, e aí está Um Beijo a Mais. Imagine uma pizza requentada com quilos de ketchup no lugar de uma porção equilibrada de orégano e manjericão. É mais ou menos isso.



Na história – que funcionou simpaticamente sob a direção de Gabriele Muccino –, um noivo hesitante entra em parafuso quando a noiva fica grávida, ele conhece uma garota sedutora e todos os amigos e parentes ao seu redor parecem empenhados em reduzir a farelos a instituição do casamento. Tudo ao mesmo tempo. A graça do filme italiano estava não exatamente nas situações, um tanto gastas, mas na forma como os personagens as vivenciavam, entre a dor e o humor, como se fossem os últimos românticos sobre a face da Terra.



Essa medida é o que se perde no roteiro de Paul Haggis, sem dúvida um mau momento de quem escreveu os recentes Menina de Ouro, Crash e A Conquista da Honra. A qualidade dos diálogos varia entre o banal e o lastimável. Os personagens se dividem claramente entre os condenados ao melodrama e os destinados a fazer comédia. E ambos são igualmente chatos a ponto de se tornarem companhia indesejável pelas duas horas que dura a projeção. Que engenharia narrativa é essa capaz de transformar a noiva “perfect girl” do início em iracunda megera de dramalhão mexicano? Ou a “brunette” a princípio irresistível em bonequinha irritante que parece saída de um comercial de chicletes?



A direção de Tony Goldwyn não ajuda a amenizar as estultices do roteiro. Sua mão é pesada tanto nas sutilezas do casual quanto nos piques (e não são poucos) de histeria conjugal. Uma suposta ousadia sexual – para o nível da Sessão da Tarde – também soa postiça e domesticada pelas poses mais convencionais. Até que os atores correspondem bem aos tipos humanos esperados, mas todos naufragam ou nadam sem rumo numa encenação sem qualquer brilho.



Mas o pior de tudo nessa transposição “fiel” de Florença para Wisconsin é a mudança de espírito. No original de Muccino, tínhamos gente tentando desesperadamente reter a chama da paixão. Nessa releitura industrial, temos robôs dramáticos metidos numa história puritana onde o amor se conquista pela culpa e a penitência.





# UM BEIJO A MAIS (THE LAST KISS)

EUA, 2006

Direção:
TONY GOLDWYN

Roteiro: PAUL HAGGIS, baseado no filme de GABRIELE MUCCINO

Fotografia: TOM STERN

Montagem: LISA ZENO CHURGIN

Música: MICHAEL PENN

Elenco: ZACH BRAFF, JACINDA BARRETT, CASEY AFFLECK, RACHEL BILSON, MICHAEL WESTON, BLYTHE DANNER, TOM WILKINSON

Duração: 115 minutos

Site oficial: clique aqui

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