Se no adorável O Menino Maluquinho Helvécio Ratton mostrou o sabor de uma infância pré-videogame, em Batismo de Sangue o diretor decidiu expor o reverso do período e dar vazão ao terror que imperou a partir da segunda metade dos anos 60 e ao longo da década de 70 através da luta dos frades dominicanos contra a ditadura militar e de toda a tortura que sofreram.
O feito é, sem dúvida, louvável. Mas Ratton, que ainda tem no currículo outra bem-sucedida produção infanto-juvenil, o criativo A Dança dos Bonecos , não fez as melhores opções na hora de transportar este universo contundente para a tela grande, apesar de contar com o relato presente no livro homônimo de Frei Betto como base de trabalho.
O problema principal é que Batismo de Sangue resultou evidente demais. O cineasta sublinha para o espectador as frases que considera mais relevantes em determinadas seqüências (como a reacionária “a tortura é uma coisa de tal modo horrível que é melhor nem falar nela”), de forma a chamar atenção para o potencial de discussão ali contido. Volta a piscar para a platéia ao destacar as figuras do médico que se prestava a conferir se o preso ainda seria capaz de suportar mais espancamentos e do torturador que bebe cafezinho indiferente ao sangue que jorra a seu lado. Com a mesma obviedade, anuncia a grande cena do filme: a prece improvisada dos frades na prisão.
As seqüências de tortura, bastante destacadas ao longo da projeção, não devem ser criticadas pelo teor explícito em si, na medida em que Ratton não teria motivos para ocultar aquilo que de fato aconteceu. Mas talvez o diretor as utilize para apresentar Batismo de Sangue como uma empreitada corajosa e respeitável, que não hesita em expor detalhadamente a sucessão de torturas bárbaras que vitimaram tantos brasileiros.
Seja como for, o filme, vencedor dos Candangos de melhor direção e fotografia (Lauro Escorel) na última edição do Festival de Brasília, não se impõe sob o ponto de vista cinematográfico. As passagens do exílio de Frei Tito em Paris são particularmente fracas e o rendimento geral do elenco (preparação de atores a cargo de Sergio Pena) não se revela satisfatório, cabendo notar, porém, o esforço de Caio Blat para compor um Tito dotado de alguma pureza.
# BATISMO DE SANGUE
Brasil, 2006
Direção e Produção: HELVÉCIO RATTON
Roteiro: DANI PATARRA, HELVÉCIO RATTON
Música: MARCO ANTÔNIO GUIMARÃES
Fotografia: LAURO ESCOREL
Elenco: CAIO BLAT, DANIEL DE OLIVEIRA, CASSIO GABUS MENDES
Duração: 110 minutos