Críticas


FABRICANDO TOM ZÉ

De: DÉCIO MATOS JR.
Com: TOM ZÉ, CAETANO VELOSO, GILBERTO GIL
13.07.2007
Por Carlos Alberto Mattos
A MEDIDA DE TOM ZÉ

Na onda de cinebiografias que varre o doc brasileiro atual, Fabricando Tom Zé é uma das mais bem-sucedidas. Os júris populares do Festival do Rio e da Mostra de SP o premiaram no ano passado. Não sem razão. Décio Matos Jr. encontrou um ponto de fusão certeiro entre a irreverência performática de Tom Zé e a disciplina necessária para repassá-la ao espectador.



No mais das vezes, o tom é dado pelo próprio Tom, com sua maneira toda particular de contar histórias e falar de sua família. De certa forma, Tom Zé é co-roteirista do doc. Ninguém perde muito tempo com procedimentos biográficos de praxe. O perfil se faz em movimento, durante a turnê européia de 2005. As lacunas são cobertas com depoimentos curtos de críticos e artistas como David Byrne, que a certa altura o redescobriu para o mundo. As famosas diferenças com Caetano e Gil são um capítulo bem resolvido na síntese de três depoimentos sinceros.



Pode-se sentir falta de um pouco mais de música, mas tampouco estamos de um registro da turnê. Nos moldes do que fez Barbara Kopple em Woody Allen in Concert, o filme pega uma carona na viagem para capturar a inquietação do compositor em momentos privilegiados - como a petulância de agredir os técnicos de som do Festival de Montreux.



No fundo, o filme é um estudo de personagem. Tom Zé aparece como um artista em permanente fricção com sua estatura. No palco, o carinha miúdo vira um gigante. Na relação com a comportada esposa de muitos anos, o gigante vira um tampinha inseguro. No discurso, tudo o que tem de pequeno, feio e de origem pobre vira vaidade enviesada, quando não berros contra o império dos altos e bonitos. A transformação do complexo de inferioridade em falsa modéstia e, às vezes, em hostilidade chega a beirar o constrangedor.



Nisso Fabricando Tom Zé dá provas de honestidade. E também quando exibe o fracasso de uma improvisação num show em Vienne, França, que levou a banda a sair do palco sob vaias. Em lugar da pura exaltação, tão comum em docs biográficos, temos aqui algo mais próximo da medida exata de Tom Zé. A genialidade e seus limites.





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FABRICANDO TOM ZÉ

Brasil, 2006

Direção:
DÉCIO MATOS JR.

Produção: ELIANE FERREIRA, MATIAS MARIANI, DÉCIO MATOS JR., OMAR LEITE JUNDI

Fotografia: LULA CARVALHO

Montagem: LETICIA GIFFONI

Som direto: ALOYSIO COMPASSO

Desenho de som: BETO FERRAZ

Elenco: TOM ZÉ, NEUSA MARTINS, CAETANO VELOSO, GILBERTO GIL, DAVID BYRNE, KID VINIL, ARNALDO ANTUNES, ARTHUR NESTROVSKY

Duração: 89 minutos

Site oficial: clique aqui

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