Críticas


MESTRE BIMBA – A CAPOEIRA ILUMINADA

De: LUIZ FERNANDO GOULART
10.08.2007
Por Carlos Alberto Mattos
ODE AO REI BIMBA

Manuel dos Reis Machado, o Mestre Bimba (1900-1974), foi um grande personagem. Estivador, malandro marrento das quebradas do Taboão, em Salvador, brigava tanto que lhe ofereceram um lugar de inspetor pra ver se amansavam a fera. Mais tarde, mestre da pernada e criador da chamada capoeira regional (em oposição à de Angola), cismou de ficar sério. Virou educador. Levou a capoeira à academia e ao gosto dos gringos. Fez uma legião de alunos e admiradores. Mesmo assim, no fim da vida não soube se esquivar ao golpe mortal da miséria.



Essa história foi levantada pelos veteranos Luiz Fernando Goulart (diretor) e Luiz Carlos Maciel (roteirista), a partir do livro Mestre Bimba – Corpo de Mandinga, do pensador Muniz Sodré. De certa forma, é a academia retribuindo o interesse do capoeirista. Mestre Bimba – A Capoeira Iluminada é mais um doc-exaltação a entrar no grande cortejo do cinema brasileiro recente. O filme (conheça o site) tem um desenho bastante convencional, mas bem articulado, e uma montagem às vezes esfuziante que tira partido da ginga da capoeira. O que tem de melhor, contudo, não é exatamente o conjunto, mas a força particular de alguns “materiais”. Por exemplo:



- Os depoimentos de ex-alunos de Bimba, quase todos ungidos por aquela graça baiana de se expressar, independente do assunto em pauta. O carisma é tanto que valeria chamar o filme de “Filhos de Bimba”, pois é de sua verve que o doc se nutre. Muniz Sodré, também um “filho de Bimba”, aparece identificado como “Americano”, num expediente interessante que o doc vai explorar em dado momento.



- As cenas de filmes antigos que evocam os tempos de Bimba e ele próprio, já idoso, em ação com seu berimbau. Uma Salvador gloriosa reaparece em imagens de Mário Carneiro (A Capoeira), Pierre Kast (Carnets Brésiliens), Luiz Paulino dos Santos (Um Dia na Rampa) e do primeiro grande documentarista baiano, Alexandre Robatto (Vadiagem).



- As filmagens da capoeira contemporânea em ângulos requintados, sublinhando o teor de espetáculo que Bimba insistiu em introduzir como uma forma de garantir a sobrevivência da dança-luta.



O tom de culto e devoção só é quebrado pela irreverência ocasional dos depoimentos e, principalmente, pela participação das ex-mulheres do mestre (várias delas em regime de consentida simultaneidade). Quando as rodas de capoeira dão lugar à roda das ex-esposas, compreendemos ainda melhor a soberania tribal de Bimba, um rei africano em terras de exílio.



Visite o DocBlog do crítico.



MESTRE BIMBA – A CAPOEIRA ILUMINADA

Brasil, 2007

Direção:
LUIZ FERNANDO GOULART

Roteiro: LUIZ CARLOS MACIEL

Fotografia: RIVALDO AGOSTINHO DE LIMA FILHO (DODY)

Montagem: DANIEL NOBRE

Sonorização e mixagem: FERNANDO ARIANI

Duração: 78 minutos

Site oficial: clique aqui



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