Críticas


PERSON

De: MARINA PERSON
11.08.2007
Por Carlos Alberto Mattos
PERSON QUASE PESSOAL

Não são muitos os que ainda mantêm uma relação com esse cineasta morto prematuramente e cujos filmes caíram numa espécie de limbo. Afora São Paulo S.A., lançado há pouco tempo em DVD, e um pequeno livro que lhe dedicou Amir Labaki em 2002, pouco se falava de Luís Sérgio Person ultimamente. Coube à sua filha Marina desencavar as lembranças do pai e tecer com elas esse bonito tributo a um cineasta independente.



O eixo principal é uma entrevista de Person à TV Cultura pouco antes de sua morte, onde ele se coloca de maneira bastante pessoal em relação a sua carreira. Em torno desse material circulam os depoimentos de Jean-Claude Bernardet, Carlão Reichenbach, Paulo José, Raul Cortez e Glauco Mirko Laurelli, entre outros, complementando o retrato de um artista talentoso, temperamental e autêntico. A participação de Bernardet, roteirista do memorável O Caso dos Irmãos Naves, é particularmente saborosa não apenas pela franqueza habitual do crítico, como pelo excelente relato da tentativa de fazer um filme com Roberto Carlos em plena Jovem Guarda.



É muito bem-sucedida a construção de um alter ego do cineasta no papel de Carlos, o personagem de Walmor Chagas em São Paulo S.A., essa espécie de Memórias do Subdesenvolvimento da burguesia paulista. A partir de certo momento, passamos a ouvir sobre Person e ver Walmor Chagas como se fossem uma só figura.



O aspecto mais delicado de Person é justamente o que faz dele um documentário especial. A diretora conduz a narrativa de maneira a voltar-se com freqüência para a rememoração pessoal dela, de sua irmã Domingas e da mãe, a cineasta e socióloga Regina Jehá. O objetivo é temperar o filme com a emoção pessoal, abrindo espaço para os filmes domésticos e as indagações de Marina sobre um pai a quem conheceu basicamente através de seus filmes. O procedimento é justificado e adequadamente contemporâneo, mas não creio que tenha ampliado muito o nosso conhecimento de Luís Sérgio Person. Fica uma espécie de pátina entre memória e objeto, algo que não é inteiramente capturado.



De alguma maneira, o excessivo formalismo das entrevistas, e mais ainda das conversas familiares, parece esterilizar o contato, lançando no ar uma tensão que vem da pose, do cuidado com as palavras e com a aparência. A montagem de Sergio Mekler às vezes intervém para desconstruir um pouco esse formalismo, que trabalha contra o projeto de um Person mais intenso e emotivo.



Visite o DocBlog do crítico.



PERSON

Brasil, 2003/2007

Direção:
MARINA PERSON

Produção: SARA SILVEIRA

Fotografia: JOSÉ ROBERTO ELIEZER, ABC

Montagem final: SERGIO MEKLER

Música: BETO VILLARES, JORGE BEN JOR

Som direto: FERNANDA RAMOS

Pesquisa: CAROL ANDRADE

Duração: 74 minutos

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