A câmera de Santiago Otheguy mergulha de forma suave, contemplativa, numa floresta, aproximando-se da aldeia ribeirinha onde vivem Álvaro e Turu, protagonistas deste La León . De início, o diretor descortina imagens cujos significados ficam nebulosos diante do espectador. Demonstra, porém, querer deter-se justamente no que permanece encoberto.
Os personagens discutem a respeito da morte de um jovem: suicídio ou assassinato? Aos poucos, informações são evidenciadas. Preconceitos raciais e sexuais vêm à tona, a disputa pelo domínio da região gera explosões de violência. As mudanças parecem se constituir como força ameaçadora. E os sentimentos reprimidos, também.
Otheguy ainda não adquiriu a excelência de cineastas como Lucrecia Martel, em especial no que se refere à capacidade de materializar um universo sensorial, impalpável, na tela. Mas este seu trabalho traz algo de perturbador, além de se inscrever numa promissora vertente do cinema argentino, localizada no extremo oposto das produções sustentadas pela capacidade de suscitar identificação emocional no espectador, independentemente de juízos de valor.
La León é um trabalho curioso, realizado em refinado preto e branco. Talvez o domínio estético do diretor se imponha sobre o conjunto da obra com algum excesso. No entanto, os méritos permanecem porque não há escolhas arbitrárias. É marcante, por exemplo, o destaque ao som ambiente (em especial, aos sons da natureza) num filme repleto de momentos silenciosos. Um silêncio ruidoso, diga-se de passagem.
# LA LEÓN
Argentina, 2006
Direção e Roteiro: SANTIAGO OTHEGUY
Elenco: JORGE ROMÁN, DANIEL VALENZUELA
Duração: 85 minutos