Críticas


FESTIVAL DO RIO 2007: O ESTADO DO MUNDO

De: APICHATPONG WEERASETHAKUL, VICENTE FERRAZ, PEDRO COSTA, CHANTAL AKERMAN e outros
Com: PASCHOAL VILLABOIM, VENTURA, SAKDA KAEWBUADEE
25.09.2007
Por Carlos Alberto Mattos
PAREM O MUNDO QUE EU QUERO SAIR DO CINEMA

O Estado do Mundo é um desafio à compreensão do espectador. Acho muito difícil saber aonde quiseram chegar alguns dos realizadores dos curtas reunidos nesse filme, nem tampouco aonde quis chegar a Fundação Calouste Gulbenkian quando os convidou.



Está bem, filme não é trem. Não é obrigado a chegar a lugar algum. Mas pressupõe-se que o projeto de um filme coletivo queira dizer alguma coisa a quem o assiste. Ao que consta, a proposta da Calouste era simplesmente que cada autor fizesse um curta sobre “o seu mundo”. A impressão é de que teve gente aproveitando restos de outros filmes para dar conta da encomenda. As sinopses transcritas no site da fundação não conferem com o que está na tela, deixando entrever uma flacidez de curadoria que deu no que deu: um fracasso de ponta a ponta.



Apichatpong Weerasethakul abusa de suas sugestões-não-concluídas ao mostrar um funeral fluvial na fronteira entre a Tailândia e o Laos. Aqui, pelo menos, as imagens em Super 8 carregam uma força particular.



O brasileiro Vicente Ferraz (Soy Cuba: o Mamute Siberiano) quis historiar a poluição da Baía da Guanabara através de uma aventura de pescadores humildes num barco precário. O sentido político se dilui numa encenação claudicante e truncada, com péssimos diálogos.



À base de inércia documental, Ayisha Abraham mostra o dia-a-dia de um imigrante nepalês na grande cidade indiana de Bangalore. Através dele, tenta abrir um quadro mais amplo com referências à luta política no Nepal. Morreria na praia, se Bangalore ficasse no litoral.



O elogiado documentarista chinês Wang Bing (A Oeste dos Trilhos) encaixa uma encenação de tortura da era maoísta na moldura de uma grande usina em fase de demolição na China atual. A relação entre os dois tempos parece, mais que arbitrária, estapafúrdia.



Demolição também está na origem do episódio de Pedro Costa, mais um capítulo da história de Ventura e seus conterrâneos cabo-verdianos (O Quarto de Wanda, Juventude em Marcha). Conversas gostosas de ouvir, e nada mais.



Por fim, a belga Chantal Akerman nos entedia com 15 minutos de um plano fixo da beira-rio de Xangai, onde barcos e fachadas de prédios se transformam em grandes telões de vídeo à noite. Mais inércia, só que disfarçada de contemplação modernosa.



Ainda pretendo navegar na internet para encontrar uma alma boa que me ajude a perceber esse “estado do mundo”. Até aqui, acredito que os nossos amigos portugueses só contribuíram para o vale-tudo que se instalou em certo cinema contemporâneo.



Visite o DocBlog do crítico.



O ESTADO DO MUNDO

Portugal, 2007

Direção:
APICHATPONG WEERASETHAKUL, VICENTE FERRAZ, CHANTAL AKERMAN, PEDRO COSTA, WANG BING, AYISHA ABRAHAM

Elenco: PASCHOAL VILLABOIM, VENTURA, SAKDA KAEWBUADEE

Duração: 105 minutos

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário