Em Pindorama, Roberto Berliner volta a desafiar nossos pré-conceitos politicamente corretos em relação a portadores de deficiência. Diante do diferente, tendemos a adotar um discurso de proteção e respeito, quando não de falsa naturalidade. Com as ceguinhas de Campina Grande, Berliner recusou-se a qualquer forma de compaixão disfarçada. Embarcou no lúdico da proposta tanto quanto as próprias personagens – e não escamoteou as conseqüências.
Com os anões do Circo Pindorama), ele não chegou a desenvolver uma relação íntima. O filme, na verdade, é uma grande apresentação de personagens, mas com o frescor de uma abordagem isenta e livre. Enquanto conhecemos essa grande família, vamos percebendo a estrutura de poder no empreendimento, o apelo sexual dos “pequenos”, o efeito da reputação artística sobre o ego de cada um.
A maior parte das piadas dos anões – dentro e fora do picadeiro – é com a sua própria condição física. Eles satirizam a si mesmos e têm um imenso prazer em exibir suas qualidades. Berliner se faz cúmplice deles. Coloca a câmera a serviço da verve deles. O aparato cinematográfico (fotografia, edição, músicas de Lula Queiroga) é usado para potencializar a fluência e a hiperatividade deles.
Pindorama é para gente tão desencanada quanto os sete anões. Fellini no sertão, equilíbrio e graça sem culpas nem exploração.
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PINDORAMA – A VERDADEIRA HISTÓRIA DOS SETE ANÕES
Brasil, 2007
Direção: ROBERTO BERLINER, LULA QUEIROGA, LEO CRIVELLARE
Duração: 75 minutos