Críticas


DONOS DA NOITE, OS

De: JAMES GRAY
Com: JOAQUIN PHOENIX, MARK WAHLBERG, EVA MENDES, ROBERT DUVALL.
16.11.2007
Por Luiz Fernando Gallego
<b>IRMÃOS (e filmes) EM PÓLOS OPOSTOS</b>

Algum ponto tangencial na história contada em Os Donos da Noite pode lembrar Os Infiltrados. Se não chega a ser outra obra-prima como foi o filme de Martin Scorsese, traz uma narrativa enxuta e direta do diretor James Gray, capaz de deixar o espectador tenso durante quase o tempo todo de projeção. Como na cena de perseguição de carros sem os exageros habituais de tomadas semelhantes que há tempos se transformaram em lugar comum de tantos filmes, mas que aqui aparece bem integrada à trama e utilizada dramaticamente.



Enquanto Scorsese tratava da traição dentro de grupamentos que funcionam como substitutos artificiais de laços familiares (sejam mafiosos ou policiais), Gray faz o elogio dos laços de sangue e de sua força de atração mesmo em situações de divergências pessoais. Admirador de obras de Luchino Visconti - como Rocco e seus Irmãos e outras que retrataram parentes próximos em conflito - ele aborda situações familiares, grupos étnicos, religião, marginalidade e a lei, temas constantes em sua pequena e sólida filmografia de apenas três longas em treze anos. Dá vontade mesmo de rever os anteriores Fuga para Odessa (1994) e Caminho sem Volta (2000) – este, com os mesmos atores centrais que agora também são co-produtores de Os Donos da Noite: Joaquin Phoenix e Mark Wahlberg. Phoenix, aliás, está perfeito no papel do irmão desgarrado da profissão de sua família (policiais) com quem entra em rota de colisão na função de gerente de uma discoteca na Nova York dos anos 1980, o tipo de lugar aonde as pessoas não iam exatamente para rezar.



A direção e a montagem deixam o espectador grudado na cadeira, ansioso com o que poderá acontecer no desenrolar da história. Embora o que está reservado a alguns personagens e certas revelações ao longo do filme possam ser previsíveis, isto ainda é muito melhor do que reviravoltas inverossímeis de roteiros que querem reinventar a roda através de surpresas insólitas que acabam desastradas. Como diz o crítico João Marcelo, nos filmes de James Gray não há muita novidade do ponto de vista da dramaturgia, mas “suas imagens são construídas de forma ascética, tão suave quanto melancólica, angustiante, mas sem excessos de tom”.



Joaquín Bata-Asay usa iluminação diversificada para as diferentes passagens, acompanhando e propiciando os climas emocionais que vão se sucedendo, sem exibicionismos na composição da fotografia e, portanto, colaborando para o “estilo” Gray. Da mesma forma, a ótima música de Wojciech Kilar (de Drácula na versão Coppola) usa tonalidades mais discretas do que outras trilhas de muitos filmes do gênero. Os atores também acompanham o jeitão geral, ou seja, todos se conduzem com a maior discrição possível, sem arroubos de overacting, seguindo o padrão de Robert Duvall, que compõe seu personagem indo direto ao ponto, sem exageros e com a competência de sempre. E Eva Mendes ainda mostra que pode ser bem aproveitada como atriz e não só como latina sensual que é o tipo necessário para sua personagem.



Todo este “recato” no sentido de que nada deve “aparecer demais” acaba sendo notado, mas apenas no somatório dos elementos componentes: o resultado pretendido e alcançado é uma narrativa cinematográfica sem volteios nem arabescos que retrata a relação entre um pai e seus filhos; entre estes dois irmãos que se colocaram em pólos divergentes de uma precária organização social; e os conflitos, interpessoais e de cada um, advindos das discrepâncias entre as subjetividades, seus desejos, e as contingências dos cenários urbanos onde vivem.



E ainda mostra tanto os limites da ação policial como a perda de tais limites de uma forma que talvez possa interessar à recente polêmica que se estabeleceu a partir de Tropa de Elite. Há algumas poucas semelhanças episódicas e enormes divergências na forma de apresentação fílmica – o que pode fazer toda a diferença estética e uma conseqüente dessemelhança na discussão sobre transgressões éticas.



# OS DONOS DA NOITE (WE OWN THE NIGHT)

EUA, 2007

Direção e Roteiro: JAMES GRAY

Fotografia: JOAQUÍN BACA-ASAY

Montagem: JOHN AXELRAD

Direção de Arte JAMES C. FENG

Música: WOJCIECH KILAR

Elenco: JOAQUIN PHOENIX, MARK WAHLBERG, EVA MENDES, ROBERT DUVALL

Duração: 117 minutos

Site oficial: www.sonypictures.com/movies/weownthenight

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