Críticas


ULTIMA HORA, A

De: LEILA CONNERS PETERSEN e NADIA CONNERS
Com: LEONARDO DICAPRIO
01.12.2007
Por Carlos Alberto Mattos
LEO NO REINO DO DOC-SERMÃO

Leonardo DiCaprio é um bom rapaz e um ótimo ator, mas, convenhamos, não tem a menor pinta de documentarista. Tudo bem, A Última Hora (The 11th Hour) não é dirigido por ele, mas pelas irmãs Leila Conners Petersen e Nadia Conners, que fundaram a empresa Tree Media Group para tocar projetos de mídia engajada. Mas como idealizador, produtor, narrador e “cara” do projeto, Leo é no mínimo co-responsável pela mediocridade reinante. Conheça o site do filme.



A comparação com Uma Verdade Inconveniente é inevitável e catastrófica para A Última Hora. Al Gore, pelo menos, encarnava o seu discurso com a legitimidade de um professor que ensinasse aos alunos como salvar a própria casa. DiCaprio parece apenas um aluno aplicado que se levanta de vez em quando para falar. Limita-se a interferir como âncora dos blocos temáticos ou aparecer olhando preocupado a paisagem à sua volta. Não mais que garoto-propaganda de uma bela causa. De resto, o que temos é uma enfadonha sucessão de pílulas de alerta, informações apocalípticas e convocações à consciência ecológica, proferidas por cientistas, ativistas, religiosos e visionários de várias etnias. Mikhail Gorbachev, porém, é o único a não se expressar em inglês – o que indica uma circunscrição ao pensamento disponível nos EUA.



Em inglês, warming (aquecimento) tem uma conveniente proximidade com warning (alerta). Uma palavra imediatamente remete à outra. O filme se divide em três grandes blocos: o caos do ecossistema, as causas do caos e as propostas para um futuro melhor. Estamos no reino do doc-sermão, onde as imagens não fazem mais que ilustrar, ponto a ponto, o que está sendo dito. E ilustram da maneira mais literal, fragmentada e inorgânica. Parecem recolhidas por estagiários em arquivos e bancos de imagens: florestas em chamas, ursos polares em perigo, desabamento de geleiras, grandes enchentes, crianças à beira da morte. E Leo contemplando a paisagem, apreensivo.



Pega até mal falar assim de um filme tão bem intencionado, que veicula críticas contundentes, entre outras coisas, ao consumismo irresponsável, à enorme concentração de riqueza nos EUA, à aliança do governo com as grandes corporações e à dependência global dos combustíveis fósseis. Mas não se pode negar que DiCaprio escolheu o caminho mais preguiçoso e talvez mais presunçoso, ao julgar que sua mera presença pudesse redimir um projeto cinematográfico pouquíssimo inspirado.



A Última Hora é uma contribuição surpreendentemente modesta a uma das principais tendências do documentarismo estadunidense: o ativismo anti-status quo. Com maior ou menor grau de sisudez, mas com igual comprometimento, encaixam-se aí os libelos de Michael Moore, The End of Suburbia, A Crude Awakening: The Oil Crash, o polêmico contracorrente The Global Warming Swindle e uma série de documentários críticos ao sistema alimentar do país (A Dieta do Palhaço, King Corn, American Harvest).



Uma observação talvez superficial sugere que o doc-ativismo ligado aos movimentos de identidade racial e sexual dos anos 1980 e 90 se deslocou para causas macro como a sobrevivência da ética, do ser humano e do ecossistema. Um dos pontos mais interessantes levantados em A Última Hora é que a Terra em si não corre o risco de desaparecer, mas sim o homem. Ela continuará, azul vermelha ou preta, rolando no espaço para sempre.



Visite o DocBlog do crítico.



A ÚLTIMA HORA (THE 11TH HOUR)

EUA, 2007

Direção:
LEILA CONNERS PETERSEN, NADIA CONNERS

Idealização, produção e narração: LEONARDO DICAPRIO

Montagem: LUIS ALVAREZ Y ALVAREZ, PIETRO SCALIA

Música: JEAN-PASCAL BEINTUS

Duração: 95 minutos

Site oficial: clique aqui

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