PQD é farto em observações interessantes sobre o sonho dos jovens de origem humilde que tentam entrar para a “tropa de elite” dos pára-quedistas do Exército. Um vago patriotismo, boas doses de senso de oportunidade, um bocado de vaidade juvenil e sobretudo o desejo de segurança e de ascensão social são os combustíveis que movem os garotos em direção aos cobiçados “boots marrons”.
Ao fazer a ponte entre a vida familiar e a passagem pela instituição, o filme de Guilherme Coelho (Fala Tu) deixa entrever sinais de um pano de fundo social: a rejeição à polícia, o aproveitamento de ex-recrutas por empresas de segurança, o exercício da disciplina como momento de exceção num ambiente privado regido por todo tipo de informalidade.
Essas informações, no entanto, têm que ser apanhadas pelo espectador como papel na ventania (para usar uma metáfora presente tanto em PQD como em Jogo de Cena). A rigor, o filme não consegue dar conta do modelo dramatúrgico escolhido – ou seja, acompanhar a trajetória de um grupo de recrutas por pouco mais de um ano. Os personagens apenas se insinuam, sem a continuidade necessária para um documentário de convívio. O caso de Lucente, que mais se aproxima de um resultado satisfatório, exemplifica a dificuldade do doc para estar presente (e fazer o espectador presente) em momentos críticos e decisivos.
Ao rever o filme, dias antes da estréia, confirmei minha primeira impressão: PQD funciona como doc de rotina sobre um assunto novo. E mais uma vez me incomodei com a cena em que a mãe de um dos jovens conta que se prostituíra no passado. Para ela, convertida à religião, dizer isso soa natural e até motivo de orgulho por ter superado uma fase má da vida. Mas o personagem do filme é o seu filho, que terá de conviver com essa confissão mais que pública, midiática, da mãe. Posso estar errado e até contribuindo para a repressão da “liberdade de documentar”, a que já me referi por aqui. Mas ainda creio que o documentarista deve esse tipo de cuidado a seus personagens.
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PQD
Brasil, 2007
Direção: GUILHERME COELHO
Roteiro: MÁRCIA WATZL, GUILHERME COELHO E NATHANIEL LECLERY
Fotografia: ALBERTO BELLEZIA
Montagem: MÁRCIA WATZL
Som direto: ALOYSIO COMPASSO, RÔMULO DRUMOND, RENATO CALASSA E LEANDRO LIMA
Duração: 90 minutos