Depois de uma estréia promissora, com o curioso e politicamente incorreto Na Companhia de Homens (sobre um par de executivos que, para se vingar das mulheres, seduzem uma surda-muda e depois a dispensam), o cineasta americano Neil Labute não acertou mais a mão. Depois do medíocre Enfermeira Betty, ele agora enveredou por um filme "sério", adaptado do romance "sério" da escritora A. S. Byatt. Filme e livro, na verdade, não fazem mais que transplantar para um ambiente de pretensa sofisticação intelectual um conjunto de clichês sobre relações afetivas, que reforçam no leitor/espectador (ou melhor, no consumidor, já que no final das contas é isso que importa) os velhos e surrados valores da classe média e das novelas de televisão.
Pobre do poeta Randolph Henry Ash, usado como gancho para uma história altamente inconvincente e tediosa sobre um professor de literatura americano (Aaron Eckhart, que mais parece um galã de Melrose, sempre com a barba displicentemente mal feita) e outra inglesa (Gwyneth Paltrow, igualmente mal escalada), que descobrem uma carta de amor do escritor e reconstituem, a partir daí, seu envolvimento com uma obscura poetisa. Nem é preciso dizer que os dois professores se apaixonam - apesar de experiências passadas terem deixado os dois com o coração partido etc. Nem mesmo como um retrato da dinâmica e da competitividade do meio acadêmico o filme funciona - sendo, neste aspecto, muito inferior, por exemplo, a Morto ao Chegar. Por fim, a alternância entre os dois registros - presente e passado - só compromete ainda mais a já frágil estrutura narrativa. Apesar dos sorrisos sempre sedutores de Gwyneth, Possessão deixa a desejar.
# POSSESSÃO (POSSESSION)
EUA, 2002
Direção: NEIL LABUTE
Roteiro: DAVID HENRY HWANG, LAURA JONES, NEIL LABUTE
Produção: BARRY LEVINSON, PAULA WEINSTEIN
Fotografia: JEAN-YVES ESCOFFIER
Montagem: CLAIRE SIMPSON
Música: GABRIEL YARED
Elenco: AARON ECKHART, GWYNETH PALTROW, JEREMY NORTHAN, LENA HEADLEY
Duração: 102 min.
