Críticas


MULHERES SEXO VERDADES MENTIRAS

De: EUCLYDES MARINHO
Com: JULIA LEMMERTZ, BRANCA MESSINA, FERNANDO ALVES PINTO
12.01.2008
Por Carlos Alberto Mattos
ORGASMO FINGIDO

Em Mulheres Sexo Verdades Mentiras, Julia Lemmertz vive Laura, uma documentarista. Em algum momento ficamos sabendo que ela já fez filmes sobre câncer de mama e bordadeiras de Goiás. Mas agora está tocando um projeto mais pessoal, uma espécie de doc de auto-ajuda. Separou-se do marido e deixou-se envolver pelo amante ideal, aquele que parece não ter rosto, mas só pau, bunda etc. Vive um misto de deslumbramento e pânico: como reter sua identidade mergulhada nesse mar de tesão?



O doc vai ajudá-la. É uma forma de vampirizar as experiências e fantasias de outras mulheres – amigas, conhecidas, desconhecidas. Laura faz entrevistas como se a sua sobrevivência emocional dependesse de cada palavra que ouve. Laura é um bicho faminto. Se bobear, devora até o seu cinegrafista (Fernando Alves Pinto). Doc pessoal é isso aí, pelo menos na concepção de Euclydes Marinho.



Não deixa de ter certa graça essa visão quase satírica do ofício de documentarista. Da mesma forma, certas piadas funcionam bem, sobretudo num cinema cheio de mulheres. Alguém já disse que, melhor do que ver esse filme, é ver o público que o assiste. Em algumas cenas, é mais ou menos como um programa Saia Justa que fosse ao ar na MTV às duas da madrugada. Numa era em que tudo se escancara publicamente, mas a esfera privada fica cada vez mais careta, mulheres falando sacanagem e palavrão com franqueza (ou fingida franqueza) ainda podem fazer sucesso numa sala escura.



O eixo da narrativa não é bem o caso particular de Laura, mas a sua investigação de câmera em punho. Ou seja, uma espécie de reportagem em esquetes sobre temas que se sucedem: masturbação, sexo na internet, taras, infidelidade, escravização, homossexualidade, comércio pornô, suingue, exibicionismo, sexo na terceira idade e por aí adentro. A estrutura de (mau) documentário serve para vitaminar uma dramaturgia que apenas se esboça, sem ter para onde evoluir.



O primeiro depoimento, com a atriz Jackie Brown, traz logo à memória Jogo de Cena, filmado mais ou menos na mesma época. Tal como no filme de Coutinho, alternam-se falas de atrizes, mulheres anônimas e outras que caem no lusco-fusco. A semelhança, porém, fica só no procedimento. Não existe a intenção de refletir sobre a representação no documentário e a verdade na ficção. Há apenas o desejo de parecer ousado e gozado. Mesmo que o gozo seja fingido e a ousadia seja da boca para fora.



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MULHERES SEXO VERDADES MENTIRAS

Brasil, 2007

Direção:
EUCLYDES MARINHO

Roteiro: EUCLYDES MARINHO, RAFAEL DRAGAUD

Fotografia: MARCELO “GURU” DUARTE

Edição: THIAGO ARRUDA

Elenco: JULIA LEMMERTZ, BRANCA MESSINA, FERNANDO EIRAS, MALU GALLI, FERNANDO ALVES PINTO

Duração: 81 minutos

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