Paul Thomas Anderson, o diretor dos cultuados Boogie Nights (1997) e Magnólia (´99), já havia provado com estes dois filmes que é um dos grandes nomes do cinema atual - e Sangue Negro vem confirmar isto, especialmente nos seus dois terços iniciais. Com colaboração de: um desempenho antológico de Daniel Day-Lewis; da fotografia de Robert Elswit (de Boa Noite, Boa Sorte) que participou de todos os outros longas de Anderson; e ainda de uma das mais criativas trilhas musicais - de Jonny Greenwood - membro da banda Radiohead , aqui com trechos que lembram as dissonâncias paradoxalmente melodiosas de gigantes da música clássica do século XX, como Alban Berg por exemplo, e talvez por isto ignorada pelas indicações ao Oscar, embora reconhecida em outras premiações recentes.
Sem entrar em nenhum detalhe sobre o enredo, pode-se dizer que as duas últimas cenas - que mostram os destinos do filho adotivo do personagem central e o do seu maior inimigo - parecem justapostas a tudo o que veio antes, sem integração maior com o todo mais orgânico que antecede estes dois epílogos, igualmente isolados entre si. É como se o filme tivesse dois finais, não necessariamente alternativos, mas complementares, infelizmente algo compartimentados.
Mesmo apesar da relativa quebra de fluência a partir destas duas cenas conclusivas, elas não deixam de ser satisfatórias como capítulos isolados, dramática e cinematograficamente, ainda que a força maior do filme pareça ter se centrado nas cenas ao ar livre, de força épica, ao tratar da ambição desmedida pelo ganho pecuniário a partir do petróleo. As lembranças que ocorrem à mente do cinéfilo não deixam de lado - pelo tema da ambição, o excepcional clássico maldito de Von Strohein, Greed (Ouro e Maldição), de 1924 - e, principalmente, pelo tema do petróleo, Giant (Assim Caminha a Humanidade, 1956), de George Stevens, em relação ao qual este filme se mostra bem mais realista - e cruel. O título brasileiro dado ao filme de meio século atrás soaria mais do que irônico para o There Will Be Blood de 2007.
O que se acompanha antes do duplo epílogo já terá sido capaz de envolver o espectador pela excelência da narrativa visual e pela excepcional interação som-imagem (especialmente com a brilhante música, exemplarmente integrada ao que se vê na tela).
Além de tudo, o filme e os episódios da história apresentada, baseados (ao que dizem, bem livremente) em um romance de 1927 (Oil, de Upton Sinclair, que foi co-produtor do interminado Que Viva o México! de Eisenstein) podem remeter o público a uma reflexão bem amarga sobre os tempos atuais: Sangue Negro sugere que relações ambíguas e perversas de competição entre o poder (econômico - e não só) do petróleo e o (ab)uso dos sentimentos religiosos das pessoas já viriam de longa data...
# SANGUE NEGRO (THERE WILL BE BLOOD)
Estados Unidos, 2007
Direção e Roteiro: PAUL THOMAS ANDERSON
Fotografia: ROBERT ELSWIT
Edição: DYLAN TECHINOR
Direção de Arte: DAVID CRANK
Música: JONNY GREENWOOD
Elenco: DANIEL DAY-LEWIS, PAUL DANO, KEVIN J. O’CONNOR, DILLON FREASIER.
Duração: 158 minutos
Site oficial: http://www.paramountvantage.com/blood/