Críticas


CADA UM COM SEU CINEMA

De: WALTER SALLES, DAVID CRONENBERG, THEO ANGELOPOULOS e outros
08.03.2008
Por Carlos Alberto Mattos
TRÊS MINUTOS NO ESCURINHO

Cada um Com Seu Cinema só não é um filme decepcionante porque a encomenda de Gilles Jacob para festejar os 60 anos do Festival de Cannes não poderia mesmo gerar resultado muito diferente de uma colcha de retalhos. E uma overdose de projecionistas, espectadores cegos ou se esvaindo em lágrimas, mãos atuando no escuro e sons off de filmes alheios.



Na maioria dos casos, os curtas estão muitíssimo aquém do talento de seus diretores. Mesmo assim, para quem curte cinema como projeto de autor e objeto de cinefilia, pode ser interessante descobrir como cada um encarou a idéia de fazer um curta de três minutos sobre esse espaço mítico que é a sala de cinema.



Alguns optaram pelo diálogo com seus mestres. Theo Angelopoulos, por exemplo, fez Jeanne Moreau repetir falas de A Noite, de Antonioni, diante de uma imagem de Mastroianni no seu O Apicultor. É magnetizante, com o bônus adicional de uma farpa contra o limite de três minutos. Nessa seara, porém, nenhum me pareceu mais belo do que o tributo dos irmãos Dardenne ao culto de Bresson pelas mãos de seus “modelos”: um furto inesperadamente se transforma em dádiva de carinho.



Outros partiram para a anedota. Polanski conta uma piada velha em Cinema Erótico e Lars Von Trier cai de martelo em cima da estupidez dos bem-sucedidos e dos chatos de cinema. Houve os apocalípticos da sala escura (David Cronenberg, Hou Hsiao Hsien) e os metalingüísticos (Atom Egoyan, Aki Kaurismäki, David Lynch e Gus Van Sant, este confirmando que é mesmo um cemitério de idéias).



Como não poderia deixar de ser, lá estão também os autocentrados. Nanni Moretti monologa sobre seus dilemas de cinéfilo. Lelouch relembra a cinefilia de seus pais. E Youssef Chahine se lambuza na auto-indulgência comparando seu início de carreira com a glória posterior.



Somente três episódios se filiam ao documentário. Walter Salles fez um clipe dos repentistas Castanha e Caju tirando sarro com Cannes diante de um cinema rural onde passa um certo “Os 400 Coups”. É simpático, singelo, apreciadíssimo por estrangeiros – e o único a se referir diretamente ao dono da encomenda.



Raymond Depardon registrou uma sessão no terraço do Cinema Rio, em Alexandria (Egito), onde os lenços nas cabeças das mulheres contrastam com a sensualidade esfuziante do filme a que assistem. Por fim, Wim Wenders nos mostra, com imagens de câmera dissimulada na semi-escuridão, uma sessão de DVD numa aldeia do Congo. Ele estava filmando sua participação no doc Invisíveis, sobre a ONG Médicos sem Fronteiras, quando percebeu essa poética contradição: no primeiro ano de paz após muitas décadas de exploração colonial, ditadura militar e guerra civil, adultos e crianças se divertiam vendo filmes de guerra.



Na versão lançada em cinema no Brasil, não constam os episódios de Joel e Ethan Coen - caubói (Josh Brolin) tenta se decidir entre dois filmes de arte – e de Michael Cimino – um dos mais rejeitados por críticos e cinéfilos.



Visite o DocBlog do crítico.



CADA UM COM SEU CINEMA (CHACUN SON CINÉMA)

França, 2007

Direção:
THEO ANGELOPOULOS, OLIVIER ASSAYAS, BILLE AUGUST, JANE CAMPION, YOUSSEF CHAHINE, CHEN KAIGE, MICHAEL CIMINO, ETHAN & JOEL COEN, DAVID CRONENBERG, JEAN-PIERRE & LUC DARDENNE, MANOEL DE OLIVEIRA, RAYMOND DEPARDON, ATOM EGOYAN, AMOS GITAI, HOU HSIAO HSIEN, ALEJANDRO GONZALEZ IÑARRITU, AKI KAURISMAKI, ABBAS KIAROSTAMI, TAKESHI KITANO, ANDREI KONCHALOVSKY, CLAUDE LELOUCH, KEN LOACH, NANNI MORETTI, ROMAN POLANSKI, RAOUL RUIZ, WALTER SALLES, ELIA SULEIMAN, TSAI MING LIANG, GUS VAN SANT, LARS VON TRIER, WIM WENDERS, WONG KAR WAI AND ZHANG YIMOU

Duração: 119 minutos

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