Críticas


IDENTIDADE BOURNE, A

De: DOUG LIMAN
Com: MATT DAMON, FRANKA POTENTE, CHRIS COOPER, BRIAN COX
18.10.2002
Por Marcelo Janot
PARA CONSUMO IMEDIATO

Não fosse um legítimo produto hollywoodiano, até poderíamos enxergar A Identidade Bourne como uma crítica a tudo de podre que acontece nos bastidores da CIA, o serviço secreto americano. Mas a história do agente que perde a memória ao fracassar numa missão e vira o próximo alvo de seus próprios colegas acabou mais focada no jogo de gato-e-rato e no merchandising de automóvel.



O que é de se lamentar, porque o bom diretor Doug Liman (do ótimo e pouco visto Vamos Nessa – Go) até consegue fazer um filme envolvente tendo em mãos um roteiro com alguns furos e muitas limitações. O espectador vai descobrindo quem o personagem de Matt Damon é antes que ele o faça, o que já é um erro para um filme de suspense. Curioso é que ele perde a memória mas não perde a força descomunal e a destreza para praticar lutas marciais, dirigir na contramão pelas ruas de Paris, escalar paredes como o Homem-Aranha. Em dado momento, ele e outro destes agentes da CIA, treinados para matar ex-ditadores africanos ou seja lá quem mais a paranóia governamental americana quiser, reclamam de fortes dores de cabeça, dando a entender alguma espécie de lavagem cerebral. Mas isso nunca é explicado.



Explícito mesmo é o merchandising daquele mini-Austin capaz de trafegar pela calçada e até descer escadas. Carrinho parecido, o Mini Cooper, já tinha sido visto fazendo proezas quase semelhantes, com Michael Caine ao volante, na comédia policial Assalto À Milanesa (The Italian Job, 1969). Foi só a BMW decidir colocá-lo novamente no mercado que ele voltou à tela. Agora vão refilmar Assalto À Milanesa.



Por essas e outras que é raro ver no cinema hollywoodiano filmes pensados como arte. Money rules. Essa mecanização da produção parece afetar até o desempenho dos atores. No papel da companheira involuntária das desventuras de Matt Damon, a alemã Franka Potente (de Corra, Lola, Corra) é a única ali que parece gente de verdade, e não um autômato produzido em série pela BMW.



O agente Bourne é uma nova variação da francesa Nikita, mas com a truculência e habitual inabilidade americana para demonstrar sentimentos. No final das contas a gente até se diverte. Mas sai do cinema lembrando mais da cena de perseguição automobilística do que de qualquer traço de humanidade do filme.



# A IDENTIDADE BOURNE (THE BOURNE IDENTITY)

EUA, 2002

Direção: DOUG LIMAN

Roteiro: TONY GILROY, WILLIAM BLAKE HERRON

Produção: PATRICK CROWLEY, RICHARD N. GLADSTEIN, DOUG LIMAN

Fotografia: OLIVER WOOD

Montagem: SAAR KLEIN

Música: JOHN POWELL

Elenco: MATT DAMON, FRANKA POTENTE, CHRIS COOPER, BRIAN COX, CLIVE OWEN

Duração: 119 min.

site: www.bourne-identity.com

Voltar
Compartilhe
Deixe seu comentário