É difícil assistir a Falsa Loura sem evocar o excelente Anjos Do Arrabalde , ainda que muita coisa tenha mudado ao longo do tempo. As operárias do novo filme de Carlos Reichenbach são bem mais descontraídas e falam sobre sexo abertamente, ao contrário das professoras da produção anterior, que administram com dificuldade a esfera afetiva, valendo lembrar da homossexualidade não assumida de Dália, do relacionamento infeliz vivenciado por Rosa e da submissão de Carmo ao marido autoritário.
Além disso, as personagens de Falsa Loura vivem numa periferia (geografia retomada desde o problemático “projeto piloto” Garotas Do ABC ) não tão sinistra quanto a registrada pelo diretor na década de 80. Mas, apesar de Reichenbach visitar um certo imaginário suburbano kitsch através do envolvimento de Silmara, a protagonista de sua história, com cantores de música popular, Falsa Loura bate na tela como um filme em que a suspensão do real reafirma o real. O cineasta dá corda para Silmara viver seu conto de fadas. Entretanto, quanto maior o sonho, maior a queda.
O saldo positivo deve ser creditado, em boa parte, aos desempenhos satisfatórios dos atores. Rosane Mulholland interpreta Silmara com garra. Cabe destacar também a participação de Djin Sganzerla, que saiu da última edição do Festival de Brasília com o Candango de atriz coadjuvante, segura como a complexada operária Briducha, personagem que, num ato de desespero, corta o pulso, remetendo ao mesmo feito extremado da frustrada professora Rosa numa das seqüências mais fortes de Anjos Do Arrabalde . E Jiddu Pinheiro diverte na composição de Tito, ex-namorado de Silmara, evocando o perfil tradicional (escapando, porém, de estereótipos) do adolescente da Zona Leste de São Paulo.
O próprio Carlos Reichenbach faz rápida aparição na tela. Entretanto, sua presença, como seria de se esperar, se estende por todo o filme. Até porque talvez se projete em Antero, pai de Silmara, papel de João Bourbonnais, que busca refúgio na tranqüilidade da cidade de Dois Córregos – não por acaso, título de um dos últimos e melhores filmes de Reichenbach, citado no decorrer da projeção de Falsa Loura .
# FALSA LOURA
Brasil, 2007
Direção e Roteiro: CARLOS REICHENBACH
Produção: SARA SILVEIRA
Fotografia: JACOB SARMENTO SOLITRENICK
Música Original: NELSON AYRES, MARCOS LEVY
Montagem: CRISTINA AMARAL
Elenco: ROSANE MULHOLLAND, CAUÃ REYMOND, MAURÍCIO MATTAR, DJIN SGANZERLA
Duração: 103 minutos