Mais do que o lugar (Inhapi, sertão de Alagoas), o tempo é o protagonista do novo filme de Eduardo Escorel. Já nas primeiras imagens o cineasta evidencia uma sobreposição temporal: à medida que se aproxima do sítio do agricultor Genivaldo Vieira da Silva, faz um breve retrospecto das vezes em que se viram – primeiro em 1996, por ocasião de uma gravação para o programa Gente que Faz , da TV Globo, depois em 2005, quando Escorel gravou um depoimento de Genivaldo, e, finalmente, em 2007, no reencontro que gerou O Tempo e o Lugar .
Um dos principais procedimentos adotados por Eduardo Escorel foi o de confrontar Genivaldo, em 2007, com as suas falas registradas em 2005. Mais do que isto, o diretor conduz o seu personagem rumo a uma análise de sua trajetória, em especial no que diz respeito a um acerto de contas com o período em que integrou o MST. Ainda que Escorel invista num registro de conversa informal, coloquial e didática, a julgar pelo tom suave de sua constante voz em off, trata-se de um documentário que resulta de situações armadas.
Até porque a simples presença da câmera determina que nada seja exatamente natural, nem mesmo as passagens mais “autênticas”, como as de Genivaldo descrevendo o pai diante de uma foto, e, em especial, de Lia, sua mulher, tendo o seu tempo “respeitado” ao lembrar dos filhos. Fica a impressão de que Eduardo Escorel procura trabalhar com o tempo real (vale citar também o tempo das reuniões familiares e o tempo do recolhimento no sítio Santa Brígida, realçados pelo destaque ao som ambiente), dando a impressão de que não o manipula.
Filme que ora exibe, ora oculta, seus mecanismos de construção, O Tempo e o Lugar , porém, pode ser inscrito na vertente de trabalhos descobertos pelo realizador no decorrer do processo. Tanto que Eduardo Escorel descortina uma trama familiar – centrada em Genivaldo e em dois de seus filhos, Claudemir e Clobes –, gancho que não parecia planejado a princípio. E Escorel não impõe um dado formato. Numa seqüência, o próprio Genivaldo aparece conduzindo uma conversa-entrevista; na outra, o cineasta dá espaço para o seu protagonista se revelar diante do espectador como um ótimo orador, a julgar pela habilidade em preencher de imagem cada palavra escolhida para contar a sua história.
# O TEMPO E O LUGAR
Brasil, 2008
Direção: EDUARDO ESCOREL
Fotografia e câmera: RICARDO STEIN
Som direto: HERON ALENCAR
Edição: JORDANA BERG
Produção executiva: ALVARINA SOUZA SILVA
Duração: 98 minutos