Há exatos 50 anos, a bola rolava na Copa do Mundo da Suécia e nós ainda éramos outro país. A seleção brasileira havia vencido a Áustria por 3x0 no dia 8 de junho e empatado sem gols com a Inglaterra no dia 11. A impressão de que morreríamos na praia, como em 1950 e 1954, calava todo grito no fundo da garganta. Ainda não sabíamos que dali em diante seriam só vitórias – e o Brasil seria campeão pela primeira vez. Mais que isso, como diz o comentarista Luiz Mendes, passaríamos a ser uma nação.
Descontado todo exagero, essa verdade popular ecoa jubilosa em 1958, o Ano em que o Mundo Descobriu o Brasil. Num país contraditoriamente pobre em bons filmes sobre futebol, o documentário de José Carlos Asbeg é um gol de placa. Ufanista, sem dúvida, mas como não sê-lo com Bellini erguendo a Jules Rimet, JK sorrindo no Catete, a Bossa Nova amaciando corações e tudo o mais que fez de 1958 um ano inesquecível?
As ondas de emoção provocadas pelo filme seguem um desenho impecável. A partida final contra a Suécia forma o eixo principal, regularmente interrompido por, digamos, flashbacks que retomam a história desde o trauma de 50 e fazem a crônica dos outros jogos de 58. É onde ressurgem detalhes deliciosos da infância do nosso futebol, como os distintivos costurados à mão nas camisas improvisadas dos jogadores.
A campanha é rememorada coletivamente por jornalistas, pelos heróis e pelos derrotados de então: Didi, Mazolla, Zagallo, Nilton Santos, mas também suecos, austríacos, russos e galeses que bancaram o “João” entre os dribles de Garrincha ou viram morrer suas esperanças nas mãos de Gilmar ou Castilho. Nacionalismo à parte, ver os gringos narrarem do seu ponto de vista é um dos maiores prazeres que o filme proporciona.
Sem estardalhaço, Asbeg foi buscar na encenação alguns reforços para calçar suas jogadas documentais. Filmou vinhetas de lances de jogo e gravou trechos de narração radiofônica que se integram harmoniosamente à tessitura da edição. Trilha sonora e produção gráfica também somam pontos para o clima de celebração que domina o filme.
Se alguma coisa faz falta são as imagens do famoso gol de folha-seca com que Didi classificou o Brasil contra o Peru e o depoimento atual de Pelé, a grande revelação de 58. Asbeg conta que fez de tudo para suprir essa última lacuna, mas que Pelé não teve tempo para atendê-lo. É o que diz oficialmente, embora alguma coisa no seu olhar passe a impressão de que não foi bem o tempo o vilão da história.
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1958 – O ANO EM QUE O MUNDO DESCOBRIU O BRASIL
Brasil, 2008
Direção: JOSÉ CARLOS ASBEG
Diretor assistente: JORGE MANSUR
Edição: ARTHUR FRAZÃO
Música: PAULO BAIANO
Edição de som: MARIA MURICY, SIMONE PETRILLO
Produção: BRANCA MURAT
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