Em A Teia de Chocolate , Claude Chabrol apresenta ao espectador uma obra aberta, na qual frustra qualquer ânsia não só por personagens e situações coerentes como por uma conclusão rendonda. O cineasta é fiel à vida, que tem menos lógica do que se gostaria. Não há, portanto, resolução para o conflito central: a possibilidade de que dois jovens tenham sido trocados na maternidade. Mas A Teia de Chocolate deve incomodar ainda mais o público, na medida em que Chabrol vai lançando pistas e deixando-as soltas pelo meio do caminho.
No centro de tudo está Mika, mulher de um renomado pianista, interpretada por Isabelle Huppert – atriz acostumada a dissecar com precisão personagens conturbadas, a exemplo de seu trabalho em A Professora de Piano. Sobre ela vão chegando informações esparsas acerca de suas atuações clandestinas no cotidiano. Informações, porém, que não chegam a levar a uma interpretação psicológica fechada. Afinal, A Teia de Chocolate está repleto de histórias que não se resolvem.
Poucos dados concretos surgem na tela – talvez uma forma de Chabrol anunciar que, na verdade, nada tem muita importância. Não será estranho se boa parte da platéia sair do cinema se sentindo pouco convencida. Mas há algo que se consegue apreender: como é explicitado ao final, Mika é extremamente racional. Suas ações e sua vivacidade aparente resultam da construção de uma refinada teia mental, calcada numa tentativa de controle absoluto. O filme termina no momento em que esta estrutura complexa revela sinais de esgotamento.
# A TEIA DE CHOCOLATE (Merci Pour Le Chocolat)
França, 2000
Direção: CLAUDE CHABROL
Roteiro: CAROLINE ELIACHEFF E CLAUDE CHABROL
Produção: MARIN KARMITZ
Fotografia: RENATO BERTA
Montagem: MONIQUE FARDOULIS
Música: MATTHIEU CHABROL
Elenco: ISABELLE HUPPERT, JACQUES DUTRONC, ANA MOUGLALIS, RODOLPHE PULY, BRIGITTE CATILLON, MICHEL ROBIN E MATHIEU SIMONET.
Duração: 99 min.